quinta-feira, 24 de julho de 2014

Simone

Pela primeira vez encontrei uma ingenuidade que não te reconhecia, Simone. Era tão simples decifrar o que te prendia ao seu jeito. Correspondia tanto ao estereotipo do rebelde estilizado com quem qualquer adolescente gostaria de fugir de casa. Era a sua necessidade de atrair os demais, de irradiar simpatia através de um ritual que canalizava a atenção alheia para os seus atributos que, não sendo óbvios, sabia existirem. Parecia que tinha feito um acordo com o destino e aglomerado todos os clichés desse personagem mítico que assolava o universo feminino para que até tu, aquela que ultrapassa o seu tempo, que vence a data de nascimento e que personifica tudo o que edifico, se desmanchasse da forma mais patética que hollywood poderia retratar. O sotaque atípico, os traços despreocupados, o olhar daquele para quem o amanhã não faz qualquer diferença. A minha esperança é de que obviamente te fartes, que um dia te rias disto ou que o facto de assumires este papel te possa convencer de que sabe bem sermos absurdos de vez em quando. O meu papel é intoxicar-te de verdade, de opinião isenta e de um burburinho incomodo no teu ouvido que a tua libido desejará jamais ter existido. Os amigos são esses guerreiros azedos que não se importam de carregar o desencanto da realidade, mesmo que neste momento seja a única coisa que te apoquenta e da qual queres fugir. Os amigos são também aqueles que sofrem o desgosto de constatar que a tua realidade pode e provavelmente é diferente das minhas altas expectativas para o teu futuro, aquelas que não tenho legitimidade para germinar e que, são apenas uma multiplicação da estima e admiração que te tenho. Ou pode ser tudo um ciúme comichoso que me roça de forma vil quando se trata de dividir o meu espaço com forasteiros que não me enchem as medidas. Talvez nem seja tão mau assim ou o assunto pode nem encerrar a profundidade que lhe atribuo, se lhe consumires os prós consciente dos seus tremendos vazios.

By Darko

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