segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Marisco dos pobres

Quando começo finalmente a bater bem, questionas-me e indagas-te se bato mal
Terá sido o fel, a indiferença e o teu silêncio imoral?
Auto-estima, lá pra cima, porque ainda sei quem sou
Longos dias de agonia que o teu tempo inóspito levou
Foi o esquema do dilema que entre nós abriu este fosso
Talvez te tenha acreditado camarão quando ainda és só tremoço 

Querias dicas, rimas fáceis e mais poemas de amor?
Dá pra ver na tua cara que o teu olhar perdeu a cor
Eu fui mau quando te iniciei nestes trilhos da dor
Mas quando um dia me distrai,conseguiste ser bem pior
Não fui só aquele que um dia teve a sorte de te ter, fui também aquele rufia que lutou por te merecer
Tive medo e esperança, que retrocede e avança 
Tropecei todos os dias mas levantei-me e dancei a tua dança 

Sei que me irás encontrar em cada esquina em que vais estar
Porque eu sou todas as coisas que um dia te fizeram sonhar
Esquece as datas e os presentes e as frases sem sentido 
Porque por mais que me batas, amor tem-te se for tido
Grande orgulho que é estarmos certos nos escombros do passado
Dessas sombras que me toldam do teu toque imaculado
Chega a meta do percurso que por ti eu já corri
Eu sei que todas as noite me irás querer dentro de ti 

By Darko

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Fantásticos

Aprendemos a viver sem tudo aquilo que vive sem nós. Jamais deveremos ser capaz de nos separarmos de nós, sendo que é importante sabermos ser a nossa maior obra. Dos outros querermos sempre guardar as partes de quem somos que neles plantamos, não vamos ficar sozinhos e esquecer quem andámos a distribuir uma vida inteira. Imprevistos no rumo são sempre assustadores mas naquele fim longiquo do qual vamos ouvindo falar, sabemos que acabarão por se ter tornado necessários. A cada dia notamos mutações na nossa fisionomia, na nossa perspectiva dos acontecimentos e nas expectativas que alimentamos em relação aos passos vindouros. Somos prisioneiros do que achamos de nós próprios e do que os demais poderão interpretar das nossas atitudes. É tão cruel como imperativo o julgamento a que me proponho na minúcia dos segundos, porque felizmente sempre me exiji estar acima da minha média, insatisfazendo-me comigo de forma crônica para que da próxima eu seja sempre mais competente que a última versão de mim que vos apresentei. Sempre acreditei que a coerência não deve ser sobrevalorozada e que devemos ter em vista a abertura necessária para nos contrariarmos e estarmos continuamente disponíveis para alterar as nossas convicções, paralelas a cada fase da estrada e de onde nunca deverão sair. Não porque estejamos agora certos ou porque estivéssemos errados, mas porque os tempos são outros e nós também. É sempre assim com tudo e embora nunca saibamos bem como o fazemos, alteramo-nos por comando da vida e das nossas aspirações, sendo quase sempre ludibriados por aquela coisa enfadonha e genuína de querermos ser felizes. E se amanhã for pior que hoje é que é chato, porque hoje não foi pior que ontem e o objectivo é que todos os amanhãs que erguemos na imaginação sejam fantásticos. 

By Darko

domingo, 2 de novembro de 2014

Lugares encantados

Esbardalhei-me na treva de mim próprio
Implorando que quisesses descansar à sombra da minha bananeira
Engasguei-me em tisanas e sangrias manhosas simultaneamente 
Na esperança de sossegar o transgressor pacífico que em mim reside 

Refugio-me nas palavras, auto-comiserando-me relativamente ao facto de a velocidade dos meus dedos jamais se equiparar à dos pensamentos
Em mim explode a necessidade de te dizer coisas e me dizer coisas
Vivo de dentro para fora e sei que nessa matéria há uma intolerância grande da minha parte
Encanta-me poder entregar-me aos ossos das emoções e de lá regressar com excesso de peso sensorial 

Claro que seria agradável exterminar o juiz que se alojou na minha consciência 
A minha sanidade sempre sucedeu aos meus desiquilibrios e o único terapeuta fidedigno da minha vida é o meu coração 
Os meus poros exalam derivados da escuridão escravizados a ser emissários de luz
Condenados por uma racionalidade nobre que sabe proteger um coração infantil no que toca a escolhas

Todo eu sou cada fantasma que em mim habita, amplificado pela doutrina do fado
Dividido entre a banalidade e o sublime 
Demasiado pressionado pela exigência que me impôs aquele que pretendo ser
Jamais embevecido pela possibilidade de me deixar ir
Preso na minha condição humana que destrói a minha animalidade com a ternura de saber que ambas provém de lugares encantados. 

By Darko

Em si

As rotinas do meu sono inverteram-se, tal como o facto de com ele não me conseguir encontrar durante viagens de longo curso como habitualmente fazia. Quase como se os trinta me visitassem antecipadamente, sentia-me agora num reino diferente , de uma hospitalidade que me era alheia. A corte dissipara-se e apenas os conselheiros mais próximos permaneciam de forma rotineira em meu redor, para que perpetuemos a familiaridade necessária a tempos de mudança. Voltar a casa é sempre um plano sedutor para quem não espera muito melhor de quaisquer outras circunstâncias, tentando integrar-me no meu espaço de sempre sob novas bitolas. A verdade é que o sofá me recebe sempre de forma destemida, a programação me embala e desliga do mesmo jeito doentio de quase sempre e os comparsas do costume aparecem sempre para falar sobre as suas histórias de interesse proporcional ao panorama televisivo em plano de fundo, o que confesso, me agrada profundamente e até descansa. E eu penso sobre todas as glórias consequentes da minha jornada, que tem dias grosseiros, no entanto eternamente contaminados pela balança do orgulho que se descai sempre para o lado da certeza de ser muito feliz por viver nesta pele que me faz extrair de toda e quaisquer emoção o melhor para a minha integração neste complexo argumento. Os cães e o gato já se entendem sem sequer ousarem tocar-se e eu já sei usufruir do prazer anestésico de tomar banho após a noite ter caído. O vizinho acaba sempre por aparecer e é gratificante saber que há pessoas de quem gostamos mais do que sabemos, porque sem quase estarem presentes, estão sempre lá, ou cá. Já não ando descalço no chão e também cálculo as calorias do que como. Talvez tenha crescido,tarde e à má fila como o meu mau génio sempre requereu às asas do tempo. Felizmente, o que é tardio sempre foi prematuro na minha história e eu saberei estar à frente do meu tempo como a vida me ensinou a fazer de forma inata. Já não fumo com a mesma sofreguidão e já não me incomoda ter os cães em cima do estômago depois de degustar o jantar, mais pobre e menos colorido desde que decidi que há prazeres dos quais nos devemos livrar. São tempos amenos, sem grandes altercações e disponibilidade para grandes voos. A impaciência deu lugar a uma apatia saudável e a uma paz esbatida. Porque é importante meditar mais sobre aquilo que nos conforta e possuímos na sua liberdade do que sobre aquilo que já tivemos, perdemos ou até poderemos querer vir a conquistar. Na ausência de grande poder de decisão, apreciemos apenas o que é parte de nós e parece saber viver conosco em si reflectido. 

By Darko

sábado, 1 de novembro de 2014

Auto-esclarecimento

Na tua cabeça eu sou aquele sobre quem a tua melhor amiga sempre te avisou para não te aproximares. Aquele a quem o teu último encenador culpava pela tua conduta insatisfeita.
Aquele que jamais te soubera resguardar porque sempre fora vil e egocêntrico no comportamento e nas palavras inconsequentes.
Aquele que sempre te viu como um ser menor e te ludibriou deliberadamente apenas por diversão, porque te afiguravas um acessório cómodo. Aquele que te prendia no seu mundo doentio do qual tu apenas não tinhas coragem para te libertar porque de ti precisava. Aquele que jamais se preocupara com o teu universo e que despudoradamente te sugara para o seu como se quisesse que tu te anulasses. Aquele que tentaria sempre alcançar a atenção de terceiros porque tu jamais lhe chegarias. Aquele que nenhum sentido faz na tua vida porque as diferenças são tantas mais que os pontos em comum. Aquele que nunca se preocupara em retribuir a tua atenção e colmatar as tuas necessidades quando não estavam em sintonia com as suas. Aquele que jamais cedera para se encaixar nas tuas diferenças porque as considerava desnecessárias. Aquele que não se preocupara em equacionar mudar de país sem que te priorizasse na equação.

E a tua cabeça é tão ardilosa na construção desta imagem que quase me convenceu dessa (ir)realidade. Mas eu sei que não sou esse, e o teu coração também o sabe melhor que ninguém.

Eu sou aquele que se arriscou a pedir-te para entrares na sua vida quando tu nunca te atreverias a dar esse passo, mesmo estando profundamente magoado pelo carrossel das emoções que anteriormente vivera. Aquele que te convidou a acomodares-te no seu mundo e te confiou a sua gestão partilhada para que dele pudesses usufruir em partes iguais. Aquele que nunca se esqueceu de te abraçar durante a noite e que sempre te incentivou a procurares o que te faz feliz, profissional e pessoalmente. Aquele que trouxe até ti essa mesma amiga quando por caprichos infantis se afastaram. Aquele que se lembrou de partilhar o teu aniversário com pessoas que já fizeram parte da tua intimidade porque respeita o teu passado. Aquele que, mesmo quando tinha razão, não deixou de abdicar do seu orgulho e de ultrapassar o teu para te trazer de volta. Aquele que, mesmo quando tiveste atitudes irreflectidas e consequentes de uma raiva infeliz, te soube perdoar e permanecer à espera que clarificasses as tuas emoções. Aquele que sempre tentou puxar pelas tuas capacidades, motivando-te e desafiando-te a exigires o melhor de ti. Aquele que se inspirou por tantas vezes com as memórias da tua existência na sua vida para criar obras eternas. Aquele que frequentemente desistira de vontades momentâneas por crer na tua importância como superior a qualquer desejo. Aquele que em última instância sempre para os teus braços regressou porque só neles faz sentido acordar. Aquele que tem por ti uma admiração igualável a que tem por si mesmo. Aquele que conhece todos os teus odores e os ama como se fossem seus. Aquele que te escreve com a mente no silêncio que tantas vezes lhe impões o dobro das palavras que te endereça. Aquele que tem a nobreza de admitir os seus erros, de tolerar os teus e de querer renovar a sua vida para ser parte do teu mundo. Aquele que não se importa sequer de ser magoado da mesma forma que te magoou para que te sintas em pé de igualdade e possas então virar a página. Aquele que está na disposição de que cresças e vivas outras realidades para que recordes que o que vivemos não é comum, não se encontra nas esquinas da vida e vale a pena ser preservado. Aquele que sempre te teve uma enorme amizade e conhece os teus gostos e expressões de olhos fechados. 

Se calhar já não importa esclarecer-te sobre quem sou, importava sim esclarecer-me após as dúvidas que te atreveste a fomentar-me.

The voice within

Sem que o compreendamos de forma inata, há elementos que se integram na nossa estrada e que sem atrevimento para qualquer aviso prévio lhe alteram o rumo de forma inesperada e avassaladora, tornando-se num elemento fulcral de quem somos e do que projectamos querer ser. Não importa quão prematura foi a sua visita aos nossos disignios e quão inconsequente tenha sido o nosso convite para que entrassem para por cá permanecerem. Cresci na incerteza de não saber se algum dia emigraria do silêncio que tantos momentos me acompanhára, duvidando do meu papel por estas bandas, receando os que me rodeavam e temendo nunca desta comunicação qualquer proveito retirar. No entanto, sempre me exigi aprender depressa, sempre desperdiçara pouco tempo a encontrar soluções nos forros dos problemas, porque sei existirem sempre, e no momento em que me ambientara à quietude de pouco poder fazer, cruzei-me com o sustento da minha posição no universo: a minha voz. Não é difícil perceber que no começo ela me tenha intimidado e fascinado de igual forma. Jamais teria eu experimentado tamanha plenitude, sentindo-me pela primeira vez a voar num sítio que sempre imaginara ter espaço para mim. De repente fizera uma nova amiga, desmedidamente leal, teimosamente presente e quase sempre disponível para me elevar a sítios que tão feliz me fizeram. Não houve quase tempo para que percebêssemos o florescer da nossa união, sendo que os momentos fugiam às linhas do tempo e se traduziam numa intensidade que jamais o dicionário poderia ter esperança em materializar. Sem que muito me exigisse em troca, fui-me apoderando dela, dominando-a e crendo que estava claro para os dois que faríamos sempre sentido em perfeita simbiose. A sua estima silenciosa tinha assumido um papel tão encantador sobre o freio que outrora me dominava, que lentamente o seu efeito terapêutico se hiperbolizara, dando uma confiança e destreza a um ego que pela primeira vez experienciava algo mais do a sua miserabilidade sem que se antevissem os sintomas menos bons do conforto e da certeza. Na minha óptica, nem sempre segura, de que os benefícios do nosso laço sempre foram tamanhamente superiores às problemáticas, esqueci-me de que nos devemos lembrar que amanhã é feito de surpresas, nem sempre felizes, e que a prudência e salvaguarda são sempre bons amigos. Na realidade, é factual que o meu tratamento por vezes não corresponde à dimensão do que sinto por ela, não querendo isso dizer que também eu não resguarde tanto do que gostaria de verbalizar. Seria complicado exigir-lhe que percebesse que amar-me é prevenir-me continuamente. Gostamos de acreditar que os demais se decifram sozinhos, partilhando da mesma consciência que nós e tendo sempre noção do efeito das suas atitudes no meio circundante. No meu subconsciente sempre tive presente o facto de ser muito menos sem ela, lamentando cada vez que não a cuidei e aconcheguei em leitos de chá de perpétua roxa. Desta forma nascem estes pilares de respeito que nos garantem solidez, porque sei que mesmo quando me quer doer, a minha voz tem como objectivo ensinar-me, proteger-me e direccionar-me, sem que me abra feridas gratuitas e de mera retribuição. Ela pode até questionar os meus ímpetos, ou duvidar da sua eternidade, no entanto jamais duvida da minha singularidade e de quem para si significo. Talvez ninguém saiba, porque apenas sentimentos reais nos abrem a porta a tão íntimas realidades, que os meus passos não são assim tão seguros, que não sei tanto quanto aparento e que no meu crescimento houve cicatrizes que até hoje condicionam a minha forma de me relacionar, aparentemente crescida e elucidada. Ela tem a obrigação de me saber de cor e por isso mesmo, jamais me deserta em situações limite, porque sempre nos comprometemos a brilhar em parelha, porque a minha voz não almeja ser atriz e tudo o que desenha corresponde à intenção que o centro do seu ser pulsa. No meio deste par pouco provável, a verdade é que muitas vezes ela se zanga comigo, sai porta fora, tira férias durante uns dias, e de todas as vezes eu repenso a minha vida para que ela volte, reafirmando o amor que sempre lhe soube ter. Por ela cresci e atravessei multidões de leões, desprendi-me de laços passados e dissuadi os meus fantasmas. Porque a minha voz trás-me certezas, mesmo quando me quer repreender e eu, no meu jeito infantil, digo-lhe sempre o quanto a amo antes de adormecer. A verdade é que se ela jamais voltasse, eu abdicaria de tantos pequenos prazeres que se outrora eram essênciais, hoje se trasnfiguravam em vermes transparentes, apenas comparáveis à dimensão de como tantas vezes me vi antes que ela inrompesse no meu diário. No cerne da questão está a certeza de que ela me pertence, de que eu serei sempre escravo da sua grandeza e de que há perdão entre nós, porque só no sabor da minha boca ela encontra liberdade para voar, sendo que no regresso encontrará sempre esta casa desarrumada que lhe providenciará todas as condições para que falhe, erre e cresça sem medo de se permitir seguir caminho. Mesmo quando nos divorciamos, sabemos que será por pouco tempo, porque eu sem ela sou muito pouco e ela sem mim é nada. Reconforta-me assim, que ela jamais emitisse sons que de forma incauta formulassem a perspectiva de haver melhores e mais dignos sucessores do meu lugar na sua expressão. Porque assim o nosso coração escolheu, Deus ditou e o poeta escreveu. Ela sabe que eu a mereço como ela me merece orgulhosamente. Porque a minha voz não tem dúvidas mesmo quando eu as tenho, porque me elegeu como seu maior abrigo, porque felizmente sabe que há sítios que só visitará ao meu lado e que os mundos que eu lhe ofereço são feitos de histórias felizes. Que eu sou muito mais que um bom miúdo ou que o maior dos traidores. Porque nós nos sabemos além das palavras e dos silêncios. 

Fosses tu a minha voz.

By Darko 

sábado, 11 de outubro de 2014

Cardápio

A espera e a dúvida são parasitas que me têm corroído frequentemente. A ingenuidade piedosa de nos querermos agarrar ao que desejamos que seja a verdade, a esperança triste de que nos becos da nossa impotência haverá uma saída que por nós poderá ser posta em construção, o medo agonizante de que o que demonstras mas desejo saber não quereres ser de facto a tua realidade, as horas que despidas me apertam de uma maneira tão diferente do teu abraço. Os meus neuróneos degladiam-se para justificar as tuas atitudes enquanto eu apelo à experiência que te possas enquadrar nos padrões dos meus conhecimentos. A questão é que tu és especial e eu sempre acreditei ser tão ou mais especial que tu, no entanto, de repente sinto-me um verme nos teus sapatos, com esperança de que por mim sintas alguma compaixão. Compaixão o caralho. Eu sei e quero ter a certeza que o que vivemos foi o amor que eu te tenho. Mesmo que a descoberta seja tardia temos que ser exagerados, ridículos e loucos. Temos que traçar um plano e acreditar no seu sucesso, porque embora possamos levar o maior barrete das nossas vidas, podemos também entreter-nos a descobrir a nossa mais recente capacidade de alargar o nosso amor a novas dimensões. Sabemos também que isto vai brigar com o nosso ego, a nossa auto-estima, a nossa sobranceria e o nosso apreço pelo controlo de tudo, mas de que serve sermos quem queremos se não temos quem achamos digno de merecer essa partilha? Perdemo-nos por entre a estrada do desânimo contagioso e dançamos em círculos até sei lá quando, ou arregassamos as mangas, cheios de freio e até com alguma vergonha, e fazemos tudo aquilo que um dia gostaríamos que fizessem por nós. 

Esquecer era uma opção fantástica se constasse do cardápio. 

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Recobro e compostura

"Agora que percebera a mesquinha e infantil vingança de Filipe contra algo que Júlia jamais se atrevera a fazer, percebera que está na altura de colocar a uso a sua maturidade auto-proclamada com alguma urgência. Desta vez iria reagir com dignidade às ondas de indignação que lhe desidratavam a alma e respeitar-se a si e ao que sentia. Iria cuidar de si, tornar-se a pessoa que alguém melhor fará por merecer, não esquecendo todo e qualquer detalhe no qual possa ter tido um papel relevante no desgaste desta relação. Não iria ceder a tentações infantis de ter atitudes irreflectidas com o objectivo de arremessar a sua mágoa, ia acabar com o masoquismo de tornar o seu desgosto no assunto do dia, de se martirizar de ansiedade cada vez que alguém ou alguma coisa que a unissem a Filipe invadissem o seu quotidiano e acima de tudo, iria preservar-se, não iria procurar conforto em corpos estranhos nem iria contaminar o seu intimo enquanto este pulsasse as memórias do seu antigo proprietário. Iria dar uma hipótese ao tempo e aproveitar para se reencontrar consigo, para crescer e saber perdoar, para desejar o melhor e acreditar que se o destino lhes deu esta missão, foi porque estariam à altura dela. Juntos ou separados."

As amizades perversas de Júlia Barnabé by Darko

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

A promessa

Prometi que te vou escrever todos os dias, mesmo que nunca te atrevas a ler-me. Talvez um dia edite um livro com todas as cartas que te escrevo. Provavelmente, como consequência desta indústria esmorecida e morosa, já te terei esquecido quando virem a luz do dia. Ou talvez não edite livro nenhum, para que jamais te esqueça, como se isso fosse possível. Desafias diariamente a minha compreensão e debates-te, par a par, com todas as lembranças insistentes que me tentam fazer agarrar ao dia de amanhã. Eu só preciso de alguém que me dê o mundo, ou pura e simplesmente de ti. O que como imaginas, na minha óptica toldada pelo manto dos afectos, é praticamente a mesma coisa. É complexo sentirmo-nos uma metástase de um cancro no organismo de alguém que para nós é como água. A falta de paralelismo entre as nossas formas de expressar o que sentimos ou mesmo do que se aflora em nós é por demais inconsequente. Eu sei que sou esquecido e despistado, mas não me lembro de ter escondido os atalhos que sempre me levaram até ti e de não os encontrar. Eu dou-te o espaço e o silêncio que me fazem definhar, em troca da certeza de que o que guardas de mim é o meu abraço e o meu sorriso, a minha preocupação e o meu conforto. O meu corpo costumava ser a tua paz e a minha loucura o teu equilíbrio. Lembraste de quando esbarrávamos na cozinha e não conseguíamos proceder sem que os nossos lábios se despedissem até ao segundo seguinte? Lembraste de como terminavas as minhas frases na quietude do teu olhar? Eu lembro-me todos os dias e todos os segundos e recuso-me a deixar-te como uma espinha presa na minha garganta proveniente do que foi o melhor bacalhau espiritual de todos os tempos. Porque nós sempre cozinhámos a vida com quatro mãos e sempre encontrámos nas nossas diferenças a compensação para as nossas lacunas, que ambos temos. Não pintes uma noite por cima do que é dia nem me deixes apodrecer no teu jardim como se algum dia desejasses que eu caia. Porque eu sei que não, sei que não...

By Darko

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Saudade

A minha veia psiquiátrica masoquista
E o meu paternalismo exacerbado
A minha ânsia de um mundo que não se conquista
E a minha incompreensão por não te ter do meu lado

A minha incredulidade perante os imprevistos do tempo
A minha resiliência perante os muros dos quais te rodeaste 
A minha cidade que nos afasta a cada momento 
A minha insistência distante através dos esturros de amor que me cozinhaste

Lembra-te das palavras que outrora me dedicaste 
E do olhar orgulhoso com que me vias entoar-te
Os buracos que escavas na aurora de um desastre
O sentimento furioso com que me induzias a abraçar-te 

O meu medo da tua liberdade que me engole
A incógnita que a distância e tu nos cederam gentilmente 
O segredo que na tua idade se escapa e explode
A majestosa glória de uma arrogância que se escondeu nos teus olhos que cresceram tristemente 

O suicídio dos meus tesouros dos quais sempre ousei rodear-me
As cantigas dos pássaros que nos voam em paralelo sem que façam parte da equação 
Um vídeo dos tantos louros com os quais me deleitei a alimentar-te
As intrigas dos fados que nos roubam o zelo sem que percamos a sensação 

Lembro-me das palavras que outrora te enderecei
A dormência que tu e o acaso me tatuaram
O rasto que fica nas milhas que por ti trilhei 
A sentença de um sonho crú que os teus fantasmas desenharam

Saudade é uma palavra portuguesa e um sentimento extraterrestre
 

sábado, 4 de outubro de 2014

Não

Não queiras o que não sabes amar
Não te esforces por encontrar pretextos para não o fazeres
Não me tomes como um reflexo das tuas dúvidas
Não fiques para me deixar só mais uma vez

Não queiras o que não sabes se queres
Não te empenhes em destruir o que somos
Não me julgues pelo que gostavas que te tivesse feito
Para que pudesses deixar-me sempre com a certeza de poderes ficar

Não me personalizes nos obstáculos que idealizas e nutres
Não me recrimines por ser tudo aquilo que não te permite esquecer-me
Não implores ao tempo que nos roube o que já foi vivido
Não te enganes na tentativa de me enganar quando ambos nos sabemos com uma verdade inquestionável 

Não esperes que te abandone só porque tu já o fizeste
Não desejes que te falhe para que me possas culpar
Não nos digas não quando ridiculamente transbordas sim
Não comeces a nossa história sempre pelo fim

Não sucumbas a essa encruzilhada por onde te perdeste sem nós
Não me abraçes sem quereres querer apenas por saberes que quererás sempre
Não menosprezes a solidez das nossas construções apenas porque tens a luz de uma divisão fundida
Não me faças odiar amar-te por saber que me amas e me tornas a vida fodida. 

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

- Abandono - As amizades perversas de Júlia Barnabé


"Júlia nunca gostara de surpresas e o acaso sempre fora um fantasma intimidante. Foi no momento em que mais se esforçou para se equilibrar no frágil trapézio dos afectos que este se escangalhou diante dos seus olhos sem que nada o fizesse prever, porque há castelos que exigem uma construção bilateral e a sua contra-cena pura e simplesmente esquecera de decorar as suas falas. Era parte de si entregar-se muito mais do que sabia fazer crer e a perda de um dos projectos mais luzidios que alguma vez idealizara era tão aterradora como foi inesperada. Embora a sua vida profissional florescesse, lenta e árduamente como qualquer outra guerra contemporânea, e os seus amigos fizessem as demonstrações mínimas de preocupação que lhes seria requerido nos intervalos do seu natural egoísmo urbano, Júlia estava de novo entregue ao deserto da solidão e prestes a ter que se debater com uma daquelas etapas da vida que almejaríamos sempre evitar. O seu comodismo e maturidade já não lhe permitiam que fosse confortável não gostar de partilhar o seu pleno e as trivialidades que promoviam o convivio entre as pessoas nos dias que correm eram programas que já não lhe encantava de todo assistir. Precisava de sentir que fora a hipótese mais palpável de ser feliz que Filipe alguma vez vivera. Faltava-lhe desesperadamente o seu arquear de sobrancelha perante os seus ímpetos descontrolados. A sua intransigência para que adormecesse em consonância com o seu relógio. Júlia sentia-se profundamente encruzilhada nos destroços do que deles sobrava, desorientada com esta liberdade opressiva que lhe fora despejada nos braços e com a qual nada sabia fazer. Todas as ideias lhe arranhavam as extremidades da cabeça e qualquer atitude que pudesse tomar lhe parecia errada perante tanta indiferença e desapego. Equacionava violar essa liberdade, rasgar-se e destruir-se para que Filipe um dia viesse a sentir remorsos dos remorsos que Júlia lhe ansiava fazer sentir. Afigurava-se por demais vil o abandono demonstrado pela história que ambos viveram e que lhe parecia acabar de forma inglória no egoísmo masoquista de Filipe ainda se prender a si por mera descarga de consciência. Impaciência era o que lhe tomava e dominava o espectro emocional que de momento lhe parecia tão irracional como é o amor e a dor daí consequente. O coração nunca mente e a mão ausente de Filipe parecia-lhe condenar a mais bonita história de amor que alguma vez se atrevera a ser escrita. Sentia falta de quando ele a repreendia por não lavar as batatas antes de as cozinhar, de como ele se debatia pela sua atenção sempre que ela se perdia nas teias do smartphone, de como ele pousava as palmas dos seus pés adormecidas na barriga dos seus, de como os seus corpos comunicavam durante o sono numa dança lque apenas quem se compreende sabe executar e até do seu sorriso sem dentes quando pretendia ser politicamente correcto porque não conseguia ser honesto. Júlia era entrelaçada nas vielas da impotência e embora soubesse que sobreviveria, alimentava a ideia de que não queria, porque sempre acreditara que embora não pudesse controlar as emoções de outrem, poderia controlar as suas atitudes e o que delas emanava. Por um lado queria ser distante mas não suportava a ideia de deixar que as coisas lhe fugissem de forma tão rebelde e impertinente. O fosso que entre eles se agigantara era cruel e confuso e nada de concreto se lhe afigurava plausível. Se seguisse o seu coração, humilhar-se-ia até se sentir miserável e provavelmente ainda se afastaria mais dos seus intentos, já que conhecia bem o efeito pouco atractivo dessa submissão à qual já se submetera sempre que fora hipnotizada pelo suicídio de amar. Se cultivasse um afastamento sabia que por desinteresse, preguiça, ou orgulho, iria morrer embrenhada numa espera interminável até que Filipe se lembrasse de que ela existe. As certezas dele contrastavam de forma absurda com as suas dúvidas e a ideia de que se tornara uma prisão e não um recobro para a pessoa que amara era particularmente doentia. Ele dizia-lhe que ambos se conheciam bem demais para decifrar facilmente quais os sentimentos que povoavam os seus íntimos e por esse prisma Júlia queria acreditar que era inesquecivel, que tinha a capacidade de lhe oferecer um novo mundo e que novas directrizes para o seu compromisso se desenhariam através das linhas do tempo. Se as coisas que afogaram a sua caminhada conjunta eram solucionáveis, porque é que ele parecia investir na ideia de que será mais fácil deixa-la para trás quando ainda se atreve a emitir sinais opostos? Porquê é sempre a questão...Se existe saudade, lembrança e amor por endereçar, devemos garantir sempre que chega ao seu destino, porque por banal que pareça, são as coisas que se enraízam em nós e nos dão alento para os restantes paradigmas da existência. Mesmo que nos desequilibre, nos mude, e nos faça duvidar de nós, devemos lembrar-nos que são apenas consequências do monstro do amor, aquele que todos sonhamos encontrar e que devemos preservar sempre a todo o custo."

"As amizades perversas de Júlia Barnabé" by Darko

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Inverno precoce


Os laços avizinham-se frágeis 
E as palavras perderam a imponência 
O coração dissipou bombadas ágeis 
Que justifiquem a nossa existência 

Impulsos sucedâneos que calo e examino
Destroços encantadores que preservo sem meta
São vultos momentâneos de afectos à margem de qualquer ensino
E esboços ameaçadores de uma jornada que não se completa

É fado e cinzento, é débil e excruciante
Uma transição que sem aviso nos inverteu o intento
Um lado bolorento e febril do teu amante 
Que afoga a canção sem o sorriso que nos comprometeu a dar alento

Vergonha do inconseguimento que invadiu os espaços por entre os nossos dedos
É dúvida soberana sobre os alicerces do que parecera eterno
Supunha que cada momento surgiu como consequência dos laços que exterminaram os nossos medos
Nunca esta lívida e espartana mágoa que enalteces previra, anunciando um novo inverno

By Darko

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Summer Rain

I'm lacking the excitement of proving myself right 
I'm lacking to be loved in a decent way 
I'm lacking the urge to have higher goals
I'm lacking all those words you won 't dare to let out 

I miss the days when summertime thrilled me 
I miss the strength of my contesting will 
I miss the red in my face when you used to fancy me 
I miss the time when I used to be the future

I long for the applause after I nail the song
I long for art that could raise our story across the globe
I long for sacrifice when you insist you love me
I long for a hug even when I'm wrong

I'm lacking the fun of doing it for the first time
I'm lacking honesty emerging from all the lies
I'm lacking a new day without you by my said

I miss sex with no rules or impositions
I miss having no extra weight above my decisions
I miss the adventure of trusting someone new
I miss all the times I used to do it with you

I long for apologies and long runs after me
I long for changes in the skies and the sea
I long for questions that justify my awnsers
I long for the days I lived the life I dreamed of

By Darko 

quinta-feira, 24 de julho de 2014

After Gisberta

Importa-me que mates
Não me importa que vistas saias
Incomoda-me que roubes
Não me incomoda que te operes

Constrange-me que mintas
Não me constrange a tua verdade
Desola-me que ludibries 
Apraz-me que te ames

Revolta-me que cobices
Encanta-me que dês
Devasta-me que obrigues
Edifica-me que partilhes

Assombra-me que julgues
Adormece-me que aceites
Rasga-me que abomines
Abraça-me, que aproveites

Interessa-me que te magoes
Não me interessa que me magoes
Arrepia-me que te cortem as asas
Mas também me dói que voes

Aperta-me que sejas egoísta
Alivia-me que compreendas o que desconheces
Imploro para que o mundo desista
De toda a moral e os seus reveses

By Darko

Desaires de horário nobre

O tempo é fogo
E eu sou ermo
Tropeças logo
De modo enfermo 

Num canto frio
Sem regra ou modo
Curto pavio
De parco engodo

Distante desvario
De livros trocados
Num corpo vazio
Ao qual somos rogados

Encriptados
Sem acesso
Designados
Pecado confesso

Submersão
Indulgência
Transgressão
Imploro cedência

Contamino e devoro
Excomungo e pertenço
Domino e adoro
Resmungo e adenso

Uma trama sem fôlego
Uma carta sem destinatário
Uma cama sem ego
Que se parta o amor involuntário

Quem seremos
Quem comemos
Quem dizemos
Quem impersonaremos

Assunção
Concepção
Nutrição
Rejeição

Crer no impossível
Abraçar o escuro
Tornar inesquecível
Saltar cada muro

Escrever sem dó
Sangrar sem medida
Desatar cada nó
Terminar a corrida

Dizer mais
Dizer melhor
Erguer ideais
Dizer amor.

By Darko

Left Untold

Left untold

I embrace the drama
I accept sadness
I invite my karma
Into this madness

I smoke faster
I drink harder
I burst the blister
To walk further

I contest myself
I regret myself
I love myself
I hate myself

I do my part
I listen to my heart
I play the fool
With every tool

My feelings mistake me
My racional side hates me
I condescend it
I still pretend it

For no reason
In every season
I contemplate
This mess we create

We're sorry
Of our glory
We're successfull
In our story

We deny
All the reasons why
We don't dare to try
To be better

We forsake
Every mistake
Like we could make
Us look less like a sinner

We combat
The things we forget
With indifferance
We don't even get the chance

To explain
Why we complain
About the world
There is so much left untold...

By Darko

Amor

A porta do quarto já não se fecha de noite e o teu calor já não me acorda de manhã. O tempo fez-se feio para dar as boas vindas a esta nova etapa, de forma a ilustrar a saudade que tenho de ontem. Os nossos horários já não se sincronizam e os argumentos dos filmes perdem a sua riqueza sem que os assista na sombra do teu peito. O olhar dos animais entristeceu por já não nos emoldurarem na mesma fotografia. As minhas emoções estagnaram e o medo tomou conta da minha diligência. Em ti vejo a pressa de fugir porque te assustei com a minha forma desengonçada de amar. Sinto agora o peso deste manto cinzento que se abateu sobre o que escrevemos e a impotência de não conseguir alcançar-te pelos mesmos caminhos que percorri vezes sem conta. Sei que pisei demasiadas flores do teu jardim para que as imagines crescer a partir da minha capacidade de cultivo. Gostava de conseguir mostrar-te que tenho uma vastidão de terreno virgem que por ti gostaria de ver germinado. Ver-te ir sem saber que voltas hipoteca todas as certezas outrora daí consequentes e tu sabes que não sei caminhar sem certeza. Será egoísta se te pedir que não voes porque as minhas asas estão partidas? O nosso ninho foi tanto tempo a casa dos teus sonhos... E eu gostava de te dizer que quero construí-la outra e outra vez para ser a nossa realidade. Prometo dar-te a chave do castelo, ladear-te e servir-te, ser a tua corte, o teu rei e o teu povo. Espero amar-te por mim, por ti e por nós até que voltes a ser o carisma na minha voz. Anseio dar-te espaço no regaço e clareza na mente para que voltes a acertar o meu compasso e ser o abraço que me sustente.

By Darko

Exageros

Exagero

Eu exagero no amor
Eu exagero na boémia 
Eu exagero no fulgor
Eu exagero na blasfémia 

Eu exagero no sofrer 
Eu exagero no torpor
Eu exagero no temer
Eu exagero no calor

Eu exagero no cumprir
Eu exagero no quebrar
Eu exagero no bramir
Eu exagero no sonhar

Eu exagero na saudade
Eu exagero na posse
Eu exagero na intimidade
Eu exagero na tosse

Eu exagero na roupa
Eu exagero na alma
Eu exagero na sopa
Não exagero na calma!

By Darko

A noite

A noite 

Florescem as horas desmedidas e ensopadas, prostrado e esquecido na folga das mágoas, as demoras bem-vindas na curva das estradas, o fado e o mendigo que mora comigo

O resto de coisa absolutamente nenhuma, tremores falaciosos e uma terra infértil, um gargalhar parcimonioso na bruma, acariciares deliciosos num acto que não se consuma 

Tentáculos de um conluio desapropriado, órfãos de um fundamento que se perpetue,
espectáculos de um conceito desafogado, a ousadia de quem se insinue

Ovações sem jeito ou qualquer conveniência, ruídos domésticos e movimentos eróticos, interacções vagas em toda a fulgência, enganos sintéticos de comportamentos exóticos

Enrolemos os intuitos paralelos de um fantasma, no mastigar dos pensamentos claramente desajustados, perniciosos são os trilhos daquele que ama no recriminar de infundamentos sobejamente apropriados

Ruminar de forma mecanizada e maquilhar o alheamento, contemplar o avanço da história sem pudor, excruciar na odisseia detalhada do que são o esgar e o desalento

Americanizando o serão com anestésicos incompetentes, rumores estomacais sonorizam o desconforto patente no demais, desumanizando o comum e o confortável vazio da mente, fulgores dos que se valorizam no reluzente dos abdominais

Desperdício e excesso no contorno do absurdo, caminhares desnorteados no esplendor do abjecto, um comício no qual confesso o transtorno de seres surdo no que toca a aceitares o desalinhado condor do incerto

Oposições e incongruências, a indiferença penosa que não evitamos acarinhar, bandas sonoras envolventes purgadas com textos sem destino previsto, desilusões e urgências, a sentença assombrosa a que nos condenamos por não evitar as serpentes destinadas a provar os medos que visto

Fumo e atraso a pressa do acaso, ignoro o desejo e inspiro o desencanto, rumo ao que faço sem norma no traço, devoro o que prevejo e reviro no pranto

A noite envolve-me no seu manto...

By Darko

A desistência

A minha falta de graciosidade não é compatível com jogos de interesse
A minha realidade não comporta preços ou tabelas
Lá na minha cidade ainda há quem pratique o amor e a prece 
Na trivialidade dos começos das vielas

Sem qualquer parcimónia que me permita convosco comunicar
Masco as terminologias e movimento-me ao som do que ouvis
Não há qualquer cerimónia para que anuncie não querer ficar
Refém de tecnologias que nos isolam e estupram de formas vis

Quanto mais desisto de jogar convosco
Mais me convenço de que venci

By Darko

Perdida Mente

Perdida mente

Auto-estradas de despojos
O esplendor que olvidámos 
Privações da sublimação 
Contornos que privatizámos

A ponte sobre o Mondego
E o desnorte conjugal 
A igreja e a pedofilia
E o nosso perdão banal

Mal-amados pela saudade
Na genética da nostalgia
Que nos fere a liberdade
E nos assalta a cada dia

Uma estrada permanente
A que D.Sebastião nos condenou
Entra a bica e a telenovela
Bolsos que a maré esvaziou

A iletracia e o Rock in Rio
Numa modernidade falaciosa
O chumbo do amor sem rótulo
O desenrascanço e a litrosa

Mulheres de saia travada
Infidelidade condescendida
A intelectualidade hipotecada
Pelas filmagens da vida

O provincianismo sexual
A obsessão pelo alheio
A crença no ocasional
E os memorandos sem recheio

Num Portugal de nome gasto
Violado incessantemente
Onde o desgosto é irracional
E o povo ama perdidamente

By Darko

I wish I could miss you

I wish I could miss you

I wish I could miss you 
Like I used to do back then
When I believed you
Could become a better man

Those days are gone now
I'm sure I can stand alone
I decided to make this vow
To inherit your heart of stone

'Cause we can be so damn mean
Though we know it hurts inside
Like nothing we've ever seen
The beauty when two worlds collide

You teached me everything I won't be
When you dared to belittle my dreams
The day I forgot you was so hard to me
But I insist on making it easier than it seems

I wish I could miss you
Like when I had faith in us
Blood wasn't enough
To justify the fact it wounds like it does

'Cause we can be so damn dumb
Always in the name of pride
When you talk my mouth gets numb
The beauty when two worlds collide

You teached me everything I won't be
When you dared to belittle my dreams
The day I forgot you was so hard to me
But I insist on making it easier than it seems

And I really hope that life treats you well
After all the stupid things you have done
Until the day we both burn in hell
And we search for love in a place where there's none

You teached me everything I won't be...

By Darko

Bethnal Green

Bethnal Green

Forgive me lord for not knowing what I'm searching for
These doubts will surely burn my soul before I even get there
I've got an overwhelming sensation things might be different than before
And leaving you behind looking so damn kind seems quite unfair

You know I'm loosely based on an adult and I shouldn't trust myself
My mind and heart constantly battle
So I won't be left on the shelf
I might just pack my bags and get the hell out of this place
To find the best awnsers lie within your face

Give me your grace and hold me tight
Beneath the dark we keep the light
From all the places where i've been
And all the people that I've seen
I know part of me belongs in Bethnal Green

It's crazy how life can twist your convictions in an instant
I was always too scared to face things I just don't know
And now I clearly regret the fact you are so distant
It's time to get myself together and start this fucking show

You know I'm loosely based on an adult but I have to trust my gut
My mind and heart constantly battle
And it hurts like a paper-cut
I might start believing my mom and think I'm just like James Dean
To find there's a beautiful journey about to begin

Give me your grace and hold me tight
Beneath the dark we keep the light
From all the places where i've been
And all the people that I've seen
I know part of me belongs in Bethnal Green

By Darko

Carnaval

Mascaremos o desalento
Coloremos o desgaste das horas
Joguemos o âmago no vento
Celebremos fantasia sem demoras

Inspiremo-nos em utopias melhores
Finjamos ter força para erguer ideais
Rezemos para que hoje tenhamos sonhos maiores
Regressemos à origem de cânones vitais

Empunhemos espadas de lírios e amor
Gritemos versos e cânticos de apreço
Ofereçamos quem somos a uma instância melhor
Num carnaval de emoções às quais me confesso

Tudo parecerá sempre melhor quando fingimos ser quem queremos. O realismo mata a alma de vida que vivemos.

By Darko

Mind fuck

Poderei eu lamentar a expectativa de brilhantismo?
Recriminar a ânsia de que mais do que o suficiente seja feito?
Ousaria eu conformar-me com os monstros da inércia e do egoísmo?
Seria eu feliz se a minha consciência não pudesse adormecer no mesmo leito?

Cada passo lançado mingua a convicção a um ritmo perigoso
Olvidamos o ímpeto de projectar futuros mais felizes
O passado que se entoa na civilização de caminho sinuoso
Manchado na incapacidade de germinar tesouros e raízes

Interiorizarei eu o fosso perverso que se agiganta entre nós?
Condenarei eu a incompreensão que alimento em relação aos vossos ideais?
Executaria eu a proeza da transversalidade em troca do sadismo de um raciocínio veloz?
Tomara eu integrar-me no vosso conceito de valores essenciais

Cada verso vomitado me afaga a inquietude do ser
Prometo-me não mais construir sobre quaisquer perspectivas
Reprimo as utopias que sempre me exigi viabilizar
Sois vós que me desarmais pela indecência de respirarem

Cada certeza roubada dói tanto como não ter nada a perder
Estou certo do facilitismo inerente a sinapses passivas
A dúvida induzida que reside entre a desistência e morrer para mudar
Sou eu que vos assombrarei até que se resignem a amarem

A amarem-se.

By Darko

Inês

Sempre que irrompia por algum lugar adentro o aparato que a fazia anunciar-se era de um ruído tal que até os olhares mais distraídos se impossibilitavam de não pousar sobre si. A incapacidade para silenciar o mundo e estar a sós consigo faziam-na um monstro de necessidades afectivas, procurando companhia no mais aberrante dos desconhecidos, recheando a sua agenda de pequenas pausas para um café com sabe-Deus-quem de forma a que o seu calendário parecesse muito mais primaveril do que era na realidade. Inês acompanhava sempre com uma fofoca largada ao acaso enquanto acendia cigarros compulsivamente, com um respirar ofegante e um gesticular apressado. Parecia que o mundo a notificava constantemente para um sem número de actividades aborrecidas quando o seu maior tédio era a ausência delas, fazendo com que desavergonhadamente duplicasse a importância das suas naturais obrigações de cidadã e hiperbolizasse as diversas trivialidades da vida de uma jovem em final de curso como se de assuntos de estado se tratassem. No fundo era a sua falta de noção de vida adulta, o seu romantismo exacerbado e uma carência afectiva atípica que a faziam refugiar-se numa sede incompreensível e até enternecedora de reconhecimento e amor. Claro que a sua pressa em estabelecer relações muitas vezes condicionava as que tinha e afastava as seguintes pela sua nutrição atabalhoada e apressada. Era a irreflexão das suas atitudes que muitas vezes tornava a sua conduta incongruente e pouco desejada por parte de quem gosta de saber que solo pisa. Na realidade, não errava por mau intuito mas acabava por concretizar meticulosamente cada asneira que cometia pela falta de meditação sobre os seus passos e tal facto, repetido por demasia, proporcionava um desencanto desconfortável no seio daqueles que a estimavam. Era aquela pessoa que tinha amigos em todo o lado sem realmente ser a preferida de qualquer um deles. Era também a que 90% das vezes os procurava com medo de dar espaço que chegue para que nunca mais o façam. Era a que se juntava aos planos dos outros porque tinha demasiado medo de criar os seus e ter que os levar avante sozinha. A preocupação em ser demasiadas coisas, a constante importância que dava ao facto de parecer faziam com que tantas vezes acabasse por não ser coisa alguma e não permitisse aos demais compreenderem quem era na sua essência. Na verdade tinha tudo para abraçar o carisma da primeira linha mas a sede de ser relevante retirava-lhe a despreocupação necessária a protagonizar qualquer acontecimento. A insegurança das suas opiniões embora procurasse ter convicções e justifica-las a uma velocidade agoniante faziam com que tantas vezes fosse descredibilizada sem assim ter que ser. Na realidade, tinha muito talento, uma capacidade executiva atípica e uma veia contestatária digna de exploração que sofriam constantemente dos malefícios da sua descrença e se desvirtuavam pela sua total falta de foco e facilidade de distracção com frivolidades. Tornava-se numa necessidade absolutamente patética e penosa para quem bem lhe conhecesse os defeitos e a sua origem e para quem tivesse a fé que lhe faltava nos seus próprios atributos. Toda a matéria prima era sujeita a um processo de destruição causado pela sua visão evanescente do que realmente devia comunicar de si, desaproveitando tudo o que naturalmente a constituía um ser especial e apelativo.A cultura livresca transbordava a sua locução e tornava o seu discurso aborrecido e pobre em realismo. A constante necessidade de provar o seu intelecto tornavam-no muitas vezes obsoleto e a inconsequência com que muitas vezes se deixava levar pelo momento e por qualquer justificação emocional que decidia atribuir às suas lacunas faziam com que muitas vezes afastasse quem tentasse ama-la como era porque a dúvida residiria sempre no resultado do somatório entre as suas qualidades e defeitos que tantas vezes se afiguravam pouco objectivos e decifráveis. Muitas vezes era a distância entre o seu comportamento e as suas intenções que nos toldava a compreensão acerca da sua essência. Tantas vezes, a falta de cabimento nas atitudes de Inês faziam Júlia distanciar-se do carinho que por ela nutrira por motivo desconhecido e pelo peso que a sua presença representara durante o período mais solitário e contemplativo das emoções nebulosas que o fim do seu último relacionamento lhe tinham proporcionado. Júlia era grata e afeiçoara-se à sua dedicação, à sua disponibilidade e ao seu tempo indeterminado para a ouvir e acompanhar em momentos nos quais ter alguém por perto faz diferença. No entanto acabaram por ser o excesso de dedicação, disponibilidade e tempo que começaram a introduzir na cabeça de Júlia a ideia assustadora de que Inês pudesse querer exigir mais do que esta podia tencionar dar-lhe. Inês começara a requerer um reconhecimento que ultrapassava os limites do razoável, acabando por originar momentos em que Júlia sabia não estar na disposição de exceder as suas oferendas mesmo que a amiga se recusasse a não sofrer diante de si de forma tendenciosa e infantil. Era árduo abrir os braços à forma de exercer o papel de amiga que Júlia adoptava, pela sua paternalização obsessiva e falta de tolerância a que cometessem erros que já cometera ou que jamais cometeria. No entanto, tudo isso ganharia contornos mais dúbios no momento em que o receptor tivesse expectativas diferentes relativamente ao intuito dessa mesma postura. Tudo se transformara agora numa guerra surda em que a comunicação entre ambas se tornara turva e as suas condicionantes pouco esclarecidas. Começava a haver um fosso entre si que se começara a delinear quando o que as unia e o que ambas pretendiam desse laço perdera a especificidade. Júlia sentia-se absolutamente limitada na forma de expor a sua verdade porque no fundo se preocupara com os sentimentos descabidos de uma Inês que insistia em os assumir da forma mais displicente mesmo quando a sua boca jamais o verbalizaria. Cada atitude reflectia essa patologia que jamais desejara e que Júlia se recusara a alimentar em consciência. Era também o que anteriormente fazia com que Inês cortejasse uma Júlia que dependia disso e que agora a fazia retaliar em pequenas idiossincrasias que não passavam sem deixar mazelas. Na realidade era apenas o constatar de que os estilhaços de um embate impossível de prever ganhavam agora vida e começavam a criar brechas num laço que era feito de materiais claramente diferentes aos olhos de ambas as intervenientes.

By Darko