quinta-feira, 24 de julho de 2014

After Gisberta

Importa-me que mates
Não me importa que vistas saias
Incomoda-me que roubes
Não me incomoda que te operes

Constrange-me que mintas
Não me constrange a tua verdade
Desola-me que ludibries 
Apraz-me que te ames

Revolta-me que cobices
Encanta-me que dês
Devasta-me que obrigues
Edifica-me que partilhes

Assombra-me que julgues
Adormece-me que aceites
Rasga-me que abomines
Abraça-me, que aproveites

Interessa-me que te magoes
Não me interessa que me magoes
Arrepia-me que te cortem as asas
Mas também me dói que voes

Aperta-me que sejas egoísta
Alivia-me que compreendas o que desconheces
Imploro para que o mundo desista
De toda a moral e os seus reveses

By Darko

Desaires de horário nobre

O tempo é fogo
E eu sou ermo
Tropeças logo
De modo enfermo 

Num canto frio
Sem regra ou modo
Curto pavio
De parco engodo

Distante desvario
De livros trocados
Num corpo vazio
Ao qual somos rogados

Encriptados
Sem acesso
Designados
Pecado confesso

Submersão
Indulgência
Transgressão
Imploro cedência

Contamino e devoro
Excomungo e pertenço
Domino e adoro
Resmungo e adenso

Uma trama sem fôlego
Uma carta sem destinatário
Uma cama sem ego
Que se parta o amor involuntário

Quem seremos
Quem comemos
Quem dizemos
Quem impersonaremos

Assunção
Concepção
Nutrição
Rejeição

Crer no impossível
Abraçar o escuro
Tornar inesquecível
Saltar cada muro

Escrever sem dó
Sangrar sem medida
Desatar cada nó
Terminar a corrida

Dizer mais
Dizer melhor
Erguer ideais
Dizer amor.

By Darko

Left Untold

Left untold

I embrace the drama
I accept sadness
I invite my karma
Into this madness

I smoke faster
I drink harder
I burst the blister
To walk further

I contest myself
I regret myself
I love myself
I hate myself

I do my part
I listen to my heart
I play the fool
With every tool

My feelings mistake me
My racional side hates me
I condescend it
I still pretend it

For no reason
In every season
I contemplate
This mess we create

We're sorry
Of our glory
We're successfull
In our story

We deny
All the reasons why
We don't dare to try
To be better

We forsake
Every mistake
Like we could make
Us look less like a sinner

We combat
The things we forget
With indifferance
We don't even get the chance

To explain
Why we complain
About the world
There is so much left untold...

By Darko

Amor

A porta do quarto já não se fecha de noite e o teu calor já não me acorda de manhã. O tempo fez-se feio para dar as boas vindas a esta nova etapa, de forma a ilustrar a saudade que tenho de ontem. Os nossos horários já não se sincronizam e os argumentos dos filmes perdem a sua riqueza sem que os assista na sombra do teu peito. O olhar dos animais entristeceu por já não nos emoldurarem na mesma fotografia. As minhas emoções estagnaram e o medo tomou conta da minha diligência. Em ti vejo a pressa de fugir porque te assustei com a minha forma desengonçada de amar. Sinto agora o peso deste manto cinzento que se abateu sobre o que escrevemos e a impotência de não conseguir alcançar-te pelos mesmos caminhos que percorri vezes sem conta. Sei que pisei demasiadas flores do teu jardim para que as imagines crescer a partir da minha capacidade de cultivo. Gostava de conseguir mostrar-te que tenho uma vastidão de terreno virgem que por ti gostaria de ver germinado. Ver-te ir sem saber que voltas hipoteca todas as certezas outrora daí consequentes e tu sabes que não sei caminhar sem certeza. Será egoísta se te pedir que não voes porque as minhas asas estão partidas? O nosso ninho foi tanto tempo a casa dos teus sonhos... E eu gostava de te dizer que quero construí-la outra e outra vez para ser a nossa realidade. Prometo dar-te a chave do castelo, ladear-te e servir-te, ser a tua corte, o teu rei e o teu povo. Espero amar-te por mim, por ti e por nós até que voltes a ser o carisma na minha voz. Anseio dar-te espaço no regaço e clareza na mente para que voltes a acertar o meu compasso e ser o abraço que me sustente.

By Darko

Exageros

Exagero

Eu exagero no amor
Eu exagero na boémia 
Eu exagero no fulgor
Eu exagero na blasfémia 

Eu exagero no sofrer 
Eu exagero no torpor
Eu exagero no temer
Eu exagero no calor

Eu exagero no cumprir
Eu exagero no quebrar
Eu exagero no bramir
Eu exagero no sonhar

Eu exagero na saudade
Eu exagero na posse
Eu exagero na intimidade
Eu exagero na tosse

Eu exagero na roupa
Eu exagero na alma
Eu exagero na sopa
Não exagero na calma!

By Darko

A noite

A noite 

Florescem as horas desmedidas e ensopadas, prostrado e esquecido na folga das mágoas, as demoras bem-vindas na curva das estradas, o fado e o mendigo que mora comigo

O resto de coisa absolutamente nenhuma, tremores falaciosos e uma terra infértil, um gargalhar parcimonioso na bruma, acariciares deliciosos num acto que não se consuma 

Tentáculos de um conluio desapropriado, órfãos de um fundamento que se perpetue,
espectáculos de um conceito desafogado, a ousadia de quem se insinue

Ovações sem jeito ou qualquer conveniência, ruídos domésticos e movimentos eróticos, interacções vagas em toda a fulgência, enganos sintéticos de comportamentos exóticos

Enrolemos os intuitos paralelos de um fantasma, no mastigar dos pensamentos claramente desajustados, perniciosos são os trilhos daquele que ama no recriminar de infundamentos sobejamente apropriados

Ruminar de forma mecanizada e maquilhar o alheamento, contemplar o avanço da história sem pudor, excruciar na odisseia detalhada do que são o esgar e o desalento

Americanizando o serão com anestésicos incompetentes, rumores estomacais sonorizam o desconforto patente no demais, desumanizando o comum e o confortável vazio da mente, fulgores dos que se valorizam no reluzente dos abdominais

Desperdício e excesso no contorno do absurdo, caminhares desnorteados no esplendor do abjecto, um comício no qual confesso o transtorno de seres surdo no que toca a aceitares o desalinhado condor do incerto

Oposições e incongruências, a indiferença penosa que não evitamos acarinhar, bandas sonoras envolventes purgadas com textos sem destino previsto, desilusões e urgências, a sentença assombrosa a que nos condenamos por não evitar as serpentes destinadas a provar os medos que visto

Fumo e atraso a pressa do acaso, ignoro o desejo e inspiro o desencanto, rumo ao que faço sem norma no traço, devoro o que prevejo e reviro no pranto

A noite envolve-me no seu manto...

By Darko

A desistência

A minha falta de graciosidade não é compatível com jogos de interesse
A minha realidade não comporta preços ou tabelas
Lá na minha cidade ainda há quem pratique o amor e a prece 
Na trivialidade dos começos das vielas

Sem qualquer parcimónia que me permita convosco comunicar
Masco as terminologias e movimento-me ao som do que ouvis
Não há qualquer cerimónia para que anuncie não querer ficar
Refém de tecnologias que nos isolam e estupram de formas vis

Quanto mais desisto de jogar convosco
Mais me convenço de que venci

By Darko

Perdida Mente

Perdida mente

Auto-estradas de despojos
O esplendor que olvidámos 
Privações da sublimação 
Contornos que privatizámos

A ponte sobre o Mondego
E o desnorte conjugal 
A igreja e a pedofilia
E o nosso perdão banal

Mal-amados pela saudade
Na genética da nostalgia
Que nos fere a liberdade
E nos assalta a cada dia

Uma estrada permanente
A que D.Sebastião nos condenou
Entra a bica e a telenovela
Bolsos que a maré esvaziou

A iletracia e o Rock in Rio
Numa modernidade falaciosa
O chumbo do amor sem rótulo
O desenrascanço e a litrosa

Mulheres de saia travada
Infidelidade condescendida
A intelectualidade hipotecada
Pelas filmagens da vida

O provincianismo sexual
A obsessão pelo alheio
A crença no ocasional
E os memorandos sem recheio

Num Portugal de nome gasto
Violado incessantemente
Onde o desgosto é irracional
E o povo ama perdidamente

By Darko

I wish I could miss you

I wish I could miss you

I wish I could miss you 
Like I used to do back then
When I believed you
Could become a better man

Those days are gone now
I'm sure I can stand alone
I decided to make this vow
To inherit your heart of stone

'Cause we can be so damn mean
Though we know it hurts inside
Like nothing we've ever seen
The beauty when two worlds collide

You teached me everything I won't be
When you dared to belittle my dreams
The day I forgot you was so hard to me
But I insist on making it easier than it seems

I wish I could miss you
Like when I had faith in us
Blood wasn't enough
To justify the fact it wounds like it does

'Cause we can be so damn dumb
Always in the name of pride
When you talk my mouth gets numb
The beauty when two worlds collide

You teached me everything I won't be
When you dared to belittle my dreams
The day I forgot you was so hard to me
But I insist on making it easier than it seems

And I really hope that life treats you well
After all the stupid things you have done
Until the day we both burn in hell
And we search for love in a place where there's none

You teached me everything I won't be...

By Darko

Bethnal Green

Bethnal Green

Forgive me lord for not knowing what I'm searching for
These doubts will surely burn my soul before I even get there
I've got an overwhelming sensation things might be different than before
And leaving you behind looking so damn kind seems quite unfair

You know I'm loosely based on an adult and I shouldn't trust myself
My mind and heart constantly battle
So I won't be left on the shelf
I might just pack my bags and get the hell out of this place
To find the best awnsers lie within your face

Give me your grace and hold me tight
Beneath the dark we keep the light
From all the places where i've been
And all the people that I've seen
I know part of me belongs in Bethnal Green

It's crazy how life can twist your convictions in an instant
I was always too scared to face things I just don't know
And now I clearly regret the fact you are so distant
It's time to get myself together and start this fucking show

You know I'm loosely based on an adult but I have to trust my gut
My mind and heart constantly battle
And it hurts like a paper-cut
I might start believing my mom and think I'm just like James Dean
To find there's a beautiful journey about to begin

Give me your grace and hold me tight
Beneath the dark we keep the light
From all the places where i've been
And all the people that I've seen
I know part of me belongs in Bethnal Green

By Darko

Carnaval

Mascaremos o desalento
Coloremos o desgaste das horas
Joguemos o âmago no vento
Celebremos fantasia sem demoras

Inspiremo-nos em utopias melhores
Finjamos ter força para erguer ideais
Rezemos para que hoje tenhamos sonhos maiores
Regressemos à origem de cânones vitais

Empunhemos espadas de lírios e amor
Gritemos versos e cânticos de apreço
Ofereçamos quem somos a uma instância melhor
Num carnaval de emoções às quais me confesso

Tudo parecerá sempre melhor quando fingimos ser quem queremos. O realismo mata a alma de vida que vivemos.

By Darko

Mind fuck

Poderei eu lamentar a expectativa de brilhantismo?
Recriminar a ânsia de que mais do que o suficiente seja feito?
Ousaria eu conformar-me com os monstros da inércia e do egoísmo?
Seria eu feliz se a minha consciência não pudesse adormecer no mesmo leito?

Cada passo lançado mingua a convicção a um ritmo perigoso
Olvidamos o ímpeto de projectar futuros mais felizes
O passado que se entoa na civilização de caminho sinuoso
Manchado na incapacidade de germinar tesouros e raízes

Interiorizarei eu o fosso perverso que se agiganta entre nós?
Condenarei eu a incompreensão que alimento em relação aos vossos ideais?
Executaria eu a proeza da transversalidade em troca do sadismo de um raciocínio veloz?
Tomara eu integrar-me no vosso conceito de valores essenciais

Cada verso vomitado me afaga a inquietude do ser
Prometo-me não mais construir sobre quaisquer perspectivas
Reprimo as utopias que sempre me exigi viabilizar
Sois vós que me desarmais pela indecência de respirarem

Cada certeza roubada dói tanto como não ter nada a perder
Estou certo do facilitismo inerente a sinapses passivas
A dúvida induzida que reside entre a desistência e morrer para mudar
Sou eu que vos assombrarei até que se resignem a amarem

A amarem-se.

By Darko

Inês

Sempre que irrompia por algum lugar adentro o aparato que a fazia anunciar-se era de um ruído tal que até os olhares mais distraídos se impossibilitavam de não pousar sobre si. A incapacidade para silenciar o mundo e estar a sós consigo faziam-na um monstro de necessidades afectivas, procurando companhia no mais aberrante dos desconhecidos, recheando a sua agenda de pequenas pausas para um café com sabe-Deus-quem de forma a que o seu calendário parecesse muito mais primaveril do que era na realidade. Inês acompanhava sempre com uma fofoca largada ao acaso enquanto acendia cigarros compulsivamente, com um respirar ofegante e um gesticular apressado. Parecia que o mundo a notificava constantemente para um sem número de actividades aborrecidas quando o seu maior tédio era a ausência delas, fazendo com que desavergonhadamente duplicasse a importância das suas naturais obrigações de cidadã e hiperbolizasse as diversas trivialidades da vida de uma jovem em final de curso como se de assuntos de estado se tratassem. No fundo era a sua falta de noção de vida adulta, o seu romantismo exacerbado e uma carência afectiva atípica que a faziam refugiar-se numa sede incompreensível e até enternecedora de reconhecimento e amor. Claro que a sua pressa em estabelecer relações muitas vezes condicionava as que tinha e afastava as seguintes pela sua nutrição atabalhoada e apressada. Era a irreflexão das suas atitudes que muitas vezes tornava a sua conduta incongruente e pouco desejada por parte de quem gosta de saber que solo pisa. Na realidade, não errava por mau intuito mas acabava por concretizar meticulosamente cada asneira que cometia pela falta de meditação sobre os seus passos e tal facto, repetido por demasia, proporcionava um desencanto desconfortável no seio daqueles que a estimavam. Era aquela pessoa que tinha amigos em todo o lado sem realmente ser a preferida de qualquer um deles. Era também a que 90% das vezes os procurava com medo de dar espaço que chegue para que nunca mais o façam. Era a que se juntava aos planos dos outros porque tinha demasiado medo de criar os seus e ter que os levar avante sozinha. A preocupação em ser demasiadas coisas, a constante importância que dava ao facto de parecer faziam com que tantas vezes acabasse por não ser coisa alguma e não permitisse aos demais compreenderem quem era na sua essência. Na verdade tinha tudo para abraçar o carisma da primeira linha mas a sede de ser relevante retirava-lhe a despreocupação necessária a protagonizar qualquer acontecimento. A insegurança das suas opiniões embora procurasse ter convicções e justifica-las a uma velocidade agoniante faziam com que tantas vezes fosse descredibilizada sem assim ter que ser. Na realidade, tinha muito talento, uma capacidade executiva atípica e uma veia contestatária digna de exploração que sofriam constantemente dos malefícios da sua descrença e se desvirtuavam pela sua total falta de foco e facilidade de distracção com frivolidades. Tornava-se numa necessidade absolutamente patética e penosa para quem bem lhe conhecesse os defeitos e a sua origem e para quem tivesse a fé que lhe faltava nos seus próprios atributos. Toda a matéria prima era sujeita a um processo de destruição causado pela sua visão evanescente do que realmente devia comunicar de si, desaproveitando tudo o que naturalmente a constituía um ser especial e apelativo.A cultura livresca transbordava a sua locução e tornava o seu discurso aborrecido e pobre em realismo. A constante necessidade de provar o seu intelecto tornavam-no muitas vezes obsoleto e a inconsequência com que muitas vezes se deixava levar pelo momento e por qualquer justificação emocional que decidia atribuir às suas lacunas faziam com que muitas vezes afastasse quem tentasse ama-la como era porque a dúvida residiria sempre no resultado do somatório entre as suas qualidades e defeitos que tantas vezes se afiguravam pouco objectivos e decifráveis. Muitas vezes era a distância entre o seu comportamento e as suas intenções que nos toldava a compreensão acerca da sua essência. Tantas vezes, a falta de cabimento nas atitudes de Inês faziam Júlia distanciar-se do carinho que por ela nutrira por motivo desconhecido e pelo peso que a sua presença representara durante o período mais solitário e contemplativo das emoções nebulosas que o fim do seu último relacionamento lhe tinham proporcionado. Júlia era grata e afeiçoara-se à sua dedicação, à sua disponibilidade e ao seu tempo indeterminado para a ouvir e acompanhar em momentos nos quais ter alguém por perto faz diferença. No entanto acabaram por ser o excesso de dedicação, disponibilidade e tempo que começaram a introduzir na cabeça de Júlia a ideia assustadora de que Inês pudesse querer exigir mais do que esta podia tencionar dar-lhe. Inês começara a requerer um reconhecimento que ultrapassava os limites do razoável, acabando por originar momentos em que Júlia sabia não estar na disposição de exceder as suas oferendas mesmo que a amiga se recusasse a não sofrer diante de si de forma tendenciosa e infantil. Era árduo abrir os braços à forma de exercer o papel de amiga que Júlia adoptava, pela sua paternalização obsessiva e falta de tolerância a que cometessem erros que já cometera ou que jamais cometeria. No entanto, tudo isso ganharia contornos mais dúbios no momento em que o receptor tivesse expectativas diferentes relativamente ao intuito dessa mesma postura. Tudo se transformara agora numa guerra surda em que a comunicação entre ambas se tornara turva e as suas condicionantes pouco esclarecidas. Começava a haver um fosso entre si que se começara a delinear quando o que as unia e o que ambas pretendiam desse laço perdera a especificidade. Júlia sentia-se absolutamente limitada na forma de expor a sua verdade porque no fundo se preocupara com os sentimentos descabidos de uma Inês que insistia em os assumir da forma mais displicente mesmo quando a sua boca jamais o verbalizaria. Cada atitude reflectia essa patologia que jamais desejara e que Júlia se recusara a alimentar em consciência. Era também o que anteriormente fazia com que Inês cortejasse uma Júlia que dependia disso e que agora a fazia retaliar em pequenas idiossincrasias que não passavam sem deixar mazelas. Na realidade era apenas o constatar de que os estilhaços de um embate impossível de prever ganhavam agora vida e começavam a criar brechas num laço que era feito de materiais claramente diferentes aos olhos de ambas as intervenientes.

By Darko

Júlia

É imperativo que traduza a solidão do seu tempo numa sucessão de coisas sem importância que lhe possam abalar os sentidos de forma crónica. Nunca soubera como os escolhia porque talvez estivesse certa de que não o fazia. Os dias em que os seus membros a envergonhavam, em que repugnava não ter outra impermeabilidade, em que parecia só se conseguir focar detalhadamente no que a excruciava. Era engolida pela consciência de que por mais eloquente que fosse, jamais conseguiria precisar a alguém a dimensão da sua mágoa, a velocidade a que se agigantava a sensação de impotência para firmar as suas convicções relativamente a uma despedida que precisaria de ter coragem para implementar na sua ventura. Júlia podia transparecer uma conduta pouco saudável a quem a encontrasse ao entardecer, escondida por entre as camadas que cobriam a sua cama, de semblante impenetrável e olhar desaustinado, equilibrando-se numa linha ténue que a mantinha entre o lacrimejo e a condenação ao silêncio. Desengane-se quem pudesse equacionar que não estaria no seu perfeito juízo. Era precisamente durante este intermináveis monólogos que se sentia no apogeu da sua lucidez e era indubitavelmente como consequência da mesma que se sentia tão dolorida e envergonhada da sua existência pelo que a mesma acarretava. Precisava demasiado dos outros, mas era daqueles que lhe ensinaram ser normal precisar mais que guardava mais desencanto. Tal facto acabava por conceber o pensamento de que eventualmente os cânones em que crescera estivessem errados e que deveria então entregar o seu amor à família que escolhera, não sem colocar a hipótese de que os primeiros pudessem estar apenas errados relativamente à parte boa da equação e que também a família que escolhera poderia deserta-la mais tarde ou mais cedo, concluindo assim que teria que continuar a entregar-se pelo prazer de o fazer e na expectativa de se satisfazer com as pequenas migalhas de retribuição que lhe fossem atirando por engano. Achava-se demasiado maravilhosa para o seu mundo, arrependia-se de não ter o poder de o subjugar a si embora soubesse que nunca o faria, recriminava-se por ser tão competente e no entanto deixar que o seu apresso pela liberdade alheia a condicionassem na forma como lidava com aqueles com quem interagia. Foi sempre por este motivo que precisara de aligeirar o seu quotidiano com coisas desinteressantes, frívolas e fúteis. Pelo pânico que alimentara de ouvir os seus pensamentos nos espaços em branco que as suas horas contemplavam. Apesar do seu masoquismo assumido, Júlia sabia que só idolatrava a dor desta maneira peculiar que lhe permitia intelectualiza-la, porque no fundo sempre foi tendo arcaboiço de sobra para que a conseguisse dobrar. Jamais saberemos o que acontecerá no dia em que exceder a dose e as suas capacidades não conseguirem atribuir-lhe novamente a vitória.

By Darko

Simone

Pela primeira vez encontrei uma ingenuidade que não te reconhecia, Simone. Era tão simples decifrar o que te prendia ao seu jeito. Correspondia tanto ao estereotipo do rebelde estilizado com quem qualquer adolescente gostaria de fugir de casa. Era a sua necessidade de atrair os demais, de irradiar simpatia através de um ritual que canalizava a atenção alheia para os seus atributos que, não sendo óbvios, sabia existirem. Parecia que tinha feito um acordo com o destino e aglomerado todos os clichés desse personagem mítico que assolava o universo feminino para que até tu, aquela que ultrapassa o seu tempo, que vence a data de nascimento e que personifica tudo o que edifico, se desmanchasse da forma mais patética que hollywood poderia retratar. O sotaque atípico, os traços despreocupados, o olhar daquele para quem o amanhã não faz qualquer diferença. A minha esperança é de que obviamente te fartes, que um dia te rias disto ou que o facto de assumires este papel te possa convencer de que sabe bem sermos absurdos de vez em quando. O meu papel é intoxicar-te de verdade, de opinião isenta e de um burburinho incomodo no teu ouvido que a tua libido desejará jamais ter existido. Os amigos são esses guerreiros azedos que não se importam de carregar o desencanto da realidade, mesmo que neste momento seja a única coisa que te apoquenta e da qual queres fugir. Os amigos são também aqueles que sofrem o desgosto de constatar que a tua realidade pode e provavelmente é diferente das minhas altas expectativas para o teu futuro, aquelas que não tenho legitimidade para germinar e que, são apenas uma multiplicação da estima e admiração que te tenho. Ou pode ser tudo um ciúme comichoso que me roça de forma vil quando se trata de dividir o meu espaço com forasteiros que não me enchem as medidas. Talvez nem seja tão mau assim ou o assunto pode nem encerrar a profundidade que lhe atribuo, se lhe consumires os prós consciente dos seus tremendos vazios.

By Darko

A minha mesa

A minha vida sobrevive através dos circos que monto à minha mesa. Desta sôfrega necessidade de ter corte. De me rodear de diversidade e diferença para que todos me completem de forma obsessiva e detalhada a galeria que me permite balancear a minha visão de outrem . Dos que mais aprecio, dos que conheço as limitações, dos que antecipo a falha e dos que esperava tão mais. Cada um me é insuficiente e todos me são imprescindíveis. Na pretensão de deter este meu reino desmesuradamente emotivo,tão desfigurado e sobejamente opressivo. As suas expressões e as suas lacunas, o que nos une e o que me incomoda nos demais. Uma solidão perene, adiada consequentemente, na ânsia de que nunca tenhamos que nos confrontar. Divinos estranhos que me desenham a história empunhando pincéis desmazelados, apelando a uma gratidão eterna por me permitirem que os sirva, que me aproprie deles como assunto, que nos cruzemos neste labirinto sem que esqueçamos a importância do nosso rasto. Agradeço hiperbolicamente a todos pela permissão que os odeie, que os estime, que deles precise, que a partir deles me componha. Que descubra quem sou eu nos recantos do que acham ou querem parecer ser.

By Darko

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Constantino

Quando reparei, já hoje era segunda-feira e eu continuava perdido por entre o passar das horas. Neste momento sou uma personificação do impasse. Revisito todas as metas que já ultrapassei e guardo-as com orgulho como se de um anestesiante se tratassem. Por outro lado inquieto-me com tudo o que ainda não fiz e poderia ter feito e ainda mais com tudo o que ainda quero fazer. Sempre gostei de me sentir invadido por projectos e sonhos. No entanto, não consigo expulsar do olhar o desencantamento que me condena a ser inerte sempre que preciso de me combater. Sinto a alma envelhecida e aprisiono-me numa visão que desvirtua qualquer coisa que pudesse ser simplesmente agradável. Foi a meio da tarde que me senti na necessidade de convocar a minha amiga Ariel Böhmen para uma pequena partilha de desilusões. Somos ambos jovens a vomitar vida. Semelhantes na clareza de raciocínio e sensibilidade atípica. Ambos de costas voltadas com a nossa geração, com a certeza do que é certo e a vivência do que é errado como pretexto para um hipotética integração. Ambos damos as mãos ao cansaço embora gostássemos de exigir muito mais de nós, pela certeza de que existe. Os dois assaltados pela dúvida de estarmos sós porque vemos coisas que os demais não conseguem ou porque simplesmente somos seres que não têm lugar aqui. Sabemos que precisamos de muito mais para que nos possamos desenvolver correctamente, mas também sabemos que o nosso desenvolvimento precoce fez com que tudo nos pareça demasiado patético para valer a pena o esforço. Estávamos no jardim Constantino, amparados por um banco verde do qual contemplámos o cenário bairrista, povoado de idosos, emigrantes e desalojados.
A mais recente aquisição da minha amiga atraía a atenção dos mais distraídos, sendo que um animal enternecedor é sempre um bom veículo de comunicação com os transeuntes. Rodopiámos por entre diversas respostas sobre o que seria a solução para a nossa letargia embora tenhamos total consciência de que enfatizar os assuntos nunca vai fazer-nos afastar do que é fácil compreender. Falta-nos pro-actividade e fibra para dar-mos uso a todas as ferramentas que a vida nos proporcionou. Todos precisamos de chegar a sítios onde nos custou chegar para valorizar cada passo da viagem. O caminho fácil nunca trouxe consigo o real sabor do sacrifício. Tudo o que nos doeu vai sempre dar lugar a um prazer maior no fim da travessia. E nós sabemos disso. No entanto, de nada adianta percorrer toda a teoria do existencialismo se na prática nos cingimos a ser suportáveis e não excepcionais. Foi nesse momento que uma senhora de setenta e quatro anos se aproximou de nós, com o pretexto de vir acariciar a pequena cadela Pug que neste momento se equilibrava no meu colo. Pouco ou nada demorou para que a senhora pousasse os sacos que consigo trazia e fosse ficando um pouco mais presente. Seguiu-se toda uma dissertação sobre como os animais tinham uma enorme importância na nossa vida. Pela lealdade que nos oferecem e pela capacidade de ficarem conosco por uma vida inteira. Recordo-me de ouvir a senhora frisar diversas vezes que eles nos oferecem muito mais a nós do que o contrário. No entanto, não consegui evitar pensar que até os animais são capaz de nos acompanhar uma vida inteira porque os alimentamos e lhes damos dormida. Com alguns humanos passa-se simplesmente o mesmo e talvez um animal não tenha a capacidade de procurar em consciência uma nova situação igualmente conveniente, se não talvez o fizesse. A senhora era uma ex-funcionária pública e gabava-se de ter criado todos os animais no "seu" ministério. Auto-proclamava-se uma sortuda e quase que foi enternecedora com tal constatação. O marido morreu em 1985, nunca teve filhos devido a uma esterilidade de nascença e desde então os animais eram a sua família. Muitos deles foram partindo com tumores e outras doenças que vêm com a velhice, mas a senhora nunca olhara a gastos para proteger os seus animais, deixando-os decidir se queriam morrer em casa, cremando-os e mimando-os de toda a forma e feitio. Consegui reter o nome de quase todos: O Fom Fom, o Didi, a Maria Madalena, a Joana, a Xana, o Mantorras, o Nico... Não consegui evitar sentir-me repugnado comigo mesmo quando a paciência começou a escassear-me para ouvir a história da simpática D.Gracinda. Por um lado, admirava a convicção com que ela dizia ser feliz com o seu séquito de bichos sem precisar de recorrer a um homem que lhe fosse pedir para ir buscar cerveja ou que gastasse o seu dinheiro. Por outro, sabia que o que a levava a estar ali a partilhar tanto de si com dois jovens estranhos era uma tremenda falta de comunicação com o mundo e uma avassaladora solidão. Nesse momento apeteceu-me simplesmente quebrar e chorar o meu egoísmo. Durante a conversa, a Ariel limitou-se a mandar-me uma mensagem para o telemóvel onde simplesmente me dizia que provavelmente aquela senhora seria ela dentro de alguns anos. Ela, que compra animais compulsivamente para preencher um vazio que tem a ver com a falta de resposta intelectual a que condena a sua natural superioridade de pensamento. Prometi a mim mesmo que ficaria ali até a senhora decidir que estava na sua hora. Sei que provavelmente não nos veremos tão cedo mas também sei que guardo dali um pouco mais de mim. Fomos presenteados com fotografias dos seus felinos, fiquei a descobrir que o Eng. Sócrates é de singo Virgem e que Passos Coelho é Leão como a minha amiga Ariel e acima de tudo fui inspirado a fazer muito mais por mim, todos os dias que sou obrigado a acordar neste mundo de tão difícil interpretação. Claro que o tempo de conversa foi ficando extenso e o momento de partir poderia ser facilmente constrangedor, no entanto, um Ucraniano embriagado resolveu pedir-nos um cigarro e acariciar a cadela; dando-nos espaço para que nos pudéssemos levantar e seguir a nossa viagem. A senhora deixou-nos com o aviso de que "não apareceu ali por acaso" e a última coisa que nos referiu foi que "pode ser que nos tornemos a ver por aqui um dia." Eu espero que sim. De forma inesperada, claro.


By Darko

Santa Páscoa

Hoje não quero ser pai
Não quero ser filho
Nem tão pouco ser neto
Por cada lágrima que cai
Num caminho que trilho
Sem cor nem afecto

Hoje não quero ser gente
Nem sequer ter telefone
Não ouvir ninguém
Por cada infeliz que me mente
Sem que me acondicione
Do frio que aí vem

Hoje detesto coelhos
De chocolate ou sangue
Eu nem sei sonhar
Eu já não imploro de joelhos
Para que o sono vingue
E me impeça de acordar

Hoje eu não quero ser céu
Nem tão pouco ver luz
Nada mas escuridão
Sento-me como se fosse réu
Como se carregasse cruz
Sem sequer ter um chão

Hoje eu não gosto que seja hoje
Também não quero amanhã
Talvez para o mês que vem
Por mais que o caminho me suje
E que eu coma a maçã
Não morro por ninguém

by Darko

Porreiro

Há dias em que olho para trás e não vejo nada.Construímos tanto em materiais tão frágeis que era provável cederem aos poderes do tempo. De ti nem saudades me sobram já que tão pouco de ti me entregaste. Foi tudo tão bem enraizado em nós pelo que sempre ouvimos dizer que caímos na tentação de acreditar que pudesse ser assim. Agora de nada nos adianta culpar os filmes da infância e as canções que ouvimos por nos terem obrigado a imaginar que seria melhor. Viver na realidade é perceber o quão asquerosos somos no nosso íntimo. Somos demasiado cobardes para ser altruístas e demasiado egoístas para nos atrevermos a cumprir com o que acreditamos ser correcto. Nenhum de nós consegue e todos nos estamos a marimbar. O nosso umbigo será sempre o que mais dói e acabamos por nos convencer que o mais fácil é esquecer moralismos inadequados e aderir à moda.Congratulo a inteligência de quem inventou o célebre "Sou assim porque também o foram para mim!" Devia ser um gajo porreiro!

By Darko

Inexistência

Tento imaginar-me num qualquer verão distante, onde a água dissolve a cor do verde que escasseia no nosso estômago. Retrato-me num dia em que os braços do mundo me pudessem parecer quentes e esponjosos.Nesse lugar não haveria espaço para mágoa na vastidão da sua hospitalidade.Lá só te poderias perder por entre o exército de sorrisos que te cercariam o caminho.Agora já sabem que é aí que me revivo.Onde não existe nada que na realidade exista.Onde só sobrevive o o que morreria por um segundo melhor.Onde só há verdades impossíveis porque sonhar é real.Onde não é preciso placas para percebermos que lá chegámos.Onde viver não é um lugar comum.Onde valeria a pena agradecer por existir.

By Darko

We're not

I'm deeply sorry I believed in doing something better
It kinda looked cool being true to myself for a day or two
I thought smiling a lot would make it look easier
It felt great to mislead my fate but it didn't work at all

It's time to learn I'm just like all of you
We're meant to think we're something special when we're not
I always loved to say I see things in a positive way
But honey, the sun is going to burn us all someday

Cool down, chill out 
Sit down and wait until it all falls down...

By Darko

Apologia do sono

O cão adormecido, um cigarro na mão
A rua lá fora e os papeis no chão
A boca dormente e a cabeça vazia
Os pés escondidos, uma cama fria

O relógio atrasado e o espelho partido
Um corpo ao lado sem fazer sentido
As unhas crescidas e o cabelo a cair
Apenas vontade de voltar a dormir...

By Darko

My heart

My heart looks like a mental facility
They're all crazy and lost somewhere
I hear them running like they're horses
How I wish they were not there....

By Darko

Wasted

Darling, we're wasted
The news were right about today's weather
Mum didn't even call to know if I'm ok
The streets are dusty and I guess I've changed

This room gets smaller everyday
My mouth tastes like shit since yesterday
I'm scared to notice I'm a little too much like you
And if that's true I've one more ghost to runaway from

Help me find a way out of your heart
Maybe I just like to fall apart

I wish I was Clyde
But you're not Bonnie either
Being perfect always pissed us off
Still it's not right to be the damn opposite

I feel like I'm losing all my brightness
There's no light left to chase inside of me
God, is this what having no money makes me think about?
Love's meaningless when we can't just spoil ourselves

Help me find a way out of your heart
Maybe I just like to fall apart

If Lana's a star and Frodo is gay
I'm sure I'll go far and I'll find a way
To make myself proud for the both of us
To fool the whole world and get an A plus
Amy just died and I am still here
I find no drug that can erase the fear
Of being no-one and worthless as hell
Of being a joke for you to tell

Help me find a way out of your heart
Maybe I just like to fall apart 


By Darko

Ficar

Outrora achei que sorrir era ser jovem
Embora ser jovem fosse querer mandar no mundo
Mandar no mundo tornou-se então redutor
Porque ninguém quer ser dono de nada

Houve alturas em que dançar me fazia esquecer
Bebia apenas para me recordar que não sei
Não saber foi sempre a melhor coisa que tive
Até descobrir que ninguém se pode esconder aí

Era encantador sentir-me mais que alguém
Porque alguém não significava muito para mim
Nesse momento despertei os sentidos
E constatei que há tanto por explicar

Agora começo a deslindar o passado
Esse que me condiciona o futuro
Amanhã é simplesmente aborrecido
De hoje nem vale a pena falar

Há momentos em que mordo a vida
Para que ela me possa largar da mão
Quero magoar-me para lamber a ferida
Grande puta que eu não te sei fechar

Não há espelho que me mostre a saída
Mesmo sabendo não ter pedido para entrar
A cabeça pregou-me outra partida
No meu coração ninguém sabe ou quer ficar...


By Darko

That

Sometimes it feels good to make you feel bad
It's a trick played by the monsters in my head
Some would say I'm in serious need of therapy
It's my stupid way of showing I want you near me

You know how I hate that
you know how i fear that
we'll always regret that.

By Darko

Fantasmas

Ultimamente acordo cansado. O calor que se manifesta em redor do meu corpo é cortante e opressivo. Os alimentos que tento ingerir parecem-me contaminados com o sabor dos humanos. Maquilho-me de calma enquanto afago a criança que dentro de mim implora para que lhe expliquem o verdadeiro sentido das coisas. A verdade é que eu não sei sequer o que é verdadeiro. A única coisa que poderia garantir seria a que provavelmente mais me desacreditaria. Será melhor calar-me e deixar-me engolir por cada um destes fantasmas descontrolados que me rasgam e me mordem e me invadem a alma assustada. Talvez um dia a possam encontrar sentada mesmo ao lado do que é verdadeiro, nesses sítios que nunca saberemos existir. Os fantasmas existem...

By darko

Vago e vazio

Encontro-me perdido naquele segundo vago e vazio
Onde nada é o mais concreto que posso obter de mim mesmo
Espero sem sentido que mude o amargo e o frio
De todas as ruas onde me escondo sem qualquer pudor de ser feliz

Acordo em mim as saudades do que outrora sonhei
Quando sonhar ainda era plausível e o sonho quase credível
Memórias do tempo em que aprisionava no olhar um brilho incandescente
De quem crê em coisas que nunca serão coisas de gente

Agora apenas encaro as desprezíveis sobras do que fui
Com mágoa, rancor e todas aquelas coisas feias que nunca vi no meu mundo
Mas o meu mundo não existe e eu não sou dono de nada
Nem do segundo em que acreditei ser possível seguir outra estrada

By Darko

Mom

My feet are dead and I might want to cry
I better light another cigarette
Darling, surprise me with a really good lie
One of those you know you'll always regret

It's amazing how I lost my charm
It's even funnier to believe I've ever had some
It's in the dark that I feel warm
Where I avoid watching what's about to come

Mom, I'm fucking scared of being alive...


By Darko