domingo, 2 de novembro de 2014

Em si

As rotinas do meu sono inverteram-se, tal como o facto de com ele não me conseguir encontrar durante viagens de longo curso como habitualmente fazia. Quase como se os trinta me visitassem antecipadamente, sentia-me agora num reino diferente , de uma hospitalidade que me era alheia. A corte dissipara-se e apenas os conselheiros mais próximos permaneciam de forma rotineira em meu redor, para que perpetuemos a familiaridade necessária a tempos de mudança. Voltar a casa é sempre um plano sedutor para quem não espera muito melhor de quaisquer outras circunstâncias, tentando integrar-me no meu espaço de sempre sob novas bitolas. A verdade é que o sofá me recebe sempre de forma destemida, a programação me embala e desliga do mesmo jeito doentio de quase sempre e os comparsas do costume aparecem sempre para falar sobre as suas histórias de interesse proporcional ao panorama televisivo em plano de fundo, o que confesso, me agrada profundamente e até descansa. E eu penso sobre todas as glórias consequentes da minha jornada, que tem dias grosseiros, no entanto eternamente contaminados pela balança do orgulho que se descai sempre para o lado da certeza de ser muito feliz por viver nesta pele que me faz extrair de toda e quaisquer emoção o melhor para a minha integração neste complexo argumento. Os cães e o gato já se entendem sem sequer ousarem tocar-se e eu já sei usufruir do prazer anestésico de tomar banho após a noite ter caído. O vizinho acaba sempre por aparecer e é gratificante saber que há pessoas de quem gostamos mais do que sabemos, porque sem quase estarem presentes, estão sempre lá, ou cá. Já não ando descalço no chão e também cálculo as calorias do que como. Talvez tenha crescido,tarde e à má fila como o meu mau génio sempre requereu às asas do tempo. Felizmente, o que é tardio sempre foi prematuro na minha história e eu saberei estar à frente do meu tempo como a vida me ensinou a fazer de forma inata. Já não fumo com a mesma sofreguidão e já não me incomoda ter os cães em cima do estômago depois de degustar o jantar, mais pobre e menos colorido desde que decidi que há prazeres dos quais nos devemos livrar. São tempos amenos, sem grandes altercações e disponibilidade para grandes voos. A impaciência deu lugar a uma apatia saudável e a uma paz esbatida. Porque é importante meditar mais sobre aquilo que nos conforta e possuímos na sua liberdade do que sobre aquilo que já tivemos, perdemos ou até poderemos querer vir a conquistar. Na ausência de grande poder de decisão, apreciemos apenas o que é parte de nós e parece saber viver conosco em si reflectido. 


By Darko

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