segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Marisco dos pobres

Quando começo finalmente a bater bem, questionas-me e indagas-te se bato malTerá sido o fel, a indiferença e o teu silêncio imoral?Auto-estima, lá pra cima, porque ainda sei quem souLongos dias de agonia que o teu tempo inóspito levouFoi o esquema do dilema que entre nós abriu este fossoTalvez te tenha acreditado camarão quando ainda és só tremoço Querias dicas, rimas fáceis e mais poemas de amor?Dá pra ver na tua cara que o teu olhar perdeu a corEu fui mau quando te iniciei nestes trilhos da dorMas quando um dia me distrai,conseguiste ser...

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Fantásticos

Aprendemos a viver sem tudo aquilo que vive sem nós. Jamais deveremos ser capaz de nos separarmos de nós, sendo que é importante sabermos ser a nossa maior obra. Dos outros querermos sempre guardar as partes de quem somos que neles plantamos, não vamos ficar sozinhos e esquecer quem andámos a distribuir uma vida inteira. Imprevistos no rumo são sempre assustadores mas naquele fim longiquo do qual vamos ouvindo falar, sabemos que acabarão por se ter tornado necessários. A cada dia notamos mutações na nossa fisionomia, na nossa perspectiva dos acontecimentos...

domingo, 2 de novembro de 2014

Lugares encantados

Esbardalhei-me na treva de mim próprioImplorando que quisesses descansar à sombra da minha bananeiraEngasguei-me em tisanas e sangrias manhosas simultaneamente Na esperança de sossegar o transgressor pacífico que em mim reside Refugio-me nas palavras, auto-comiserando-me relativamente ao facto de a velocidade dos meus dedos jamais se equiparar à dos pensamentosEm mim explode a necessidade de te dizer coisas e me dizer coisasVivo de dentro para fora e sei que nessa matéria há uma intolerância grande da minha parteEncanta-me poder entregar-me...

Em si

As rotinas do meu sono inverteram-se, tal como o facto de com ele não me conseguir encontrar durante viagens de longo curso como habitualmente fazia. Quase como se os trinta me visitassem antecipadamente, sentia-me agora num reino diferente , de uma hospitalidade que me era alheia. A corte dissipara-se e apenas os conselheiros mais próximos permaneciam de forma rotineira em meu redor, para que perpetuemos a familiaridade necessária a tempos de mudança. Voltar a casa é sempre um plano sedutor para quem não espera muito melhor de quaisquer outras...

sábado, 1 de novembro de 2014

Auto-esclarecimento

Na tua cabeça eu sou aquele sobre quem a tua melhor amiga sempre te avisou para não te aproximares. Aquele a quem o teu último encenador culpava pela tua conduta insatisfeita.Aquele que jamais te soubera resguardar porque sempre fora vil e egocêntrico no comportamento e nas palavras inconsequentes.Aquele que sempre te viu como um ser menor e te ludibriou deliberadamente apenas por diversão, porque te afiguravas um acessório cómodo. Aquele que te prendia no seu mundo doentio do qual tu apenas não tinhas coragem para te libertar porque de ti precisava....

The voice within

Sem que o compreendamos de forma inata, há elementos que se integram na nossa estrada e que sem atrevimento para qualquer aviso prévio lhe alteram o rumo de forma inesperada e avassaladora, tornando-se num elemento fulcral de quem somos e do que projectamos querer ser. Não importa quão prematura foi a sua visita aos nossos disignios e quão inconsequente tenha sido o nosso convite para que entrassem para por cá permanecerem. Cresci na incerteza de não saber se algum dia emigraria do silêncio que tantos momentos me acompanhára, duvidando do meu papel...

sábado, 11 de outubro de 2014

Cardápio

A espera e a dúvida são parasitas que me têm corroído frequentemente. A ingenuidade piedosa de nos querermos agarrar ao que desejamos que seja a verdade, a esperança triste de que nos becos da nossa impotência haverá uma saída que por nós poderá ser posta em construção, o medo agonizante de que o que demonstras mas desejo saber não quereres ser de facto a tua realidade, as horas que despidas me apertam de uma maneira tão diferente do teu abraço. Os meus neuróneos degladiam-se para justificar as tuas atitudes enquanto eu apelo à experiência que...

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Recobro e compostura

"Agora que percebera a mesquinha e infantil vingança de Filipe contra algo que Júlia jamais se atrevera a fazer, percebera que está na altura de colocar a uso a sua maturidade auto-proclamada com alguma urgência. Desta vez iria reagir com dignidade às ondas de indignação que lhe desidratavam a alma e respeitar-se a si e ao que sentia. Iria cuidar de si, tornar-se a pessoa que alguém melhor fará por merecer, não esquecendo todo e qualquer detalhe no qual possa ter tido um papel relevante no desgaste desta relação. Não iria ceder a tentações infantis...

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

A promessa

Prometi que te vou escrever todos os dias, mesmo que nunca te atrevas a ler-me. Talvez um dia edite um livro com todas as cartas que te escrevo. Provavelmente, como consequência desta indústria esmorecida e morosa, já te terei esquecido quando virem a luz do dia. Ou talvez não edite livro nenhum, para que jamais te esqueça, como se isso fosse possível. Desafias diariamente a minha compreensão e debates-te, par a par, com todas as lembranças insistentes que me tentam fazer agarrar ao dia de amanhã. Eu só preciso de alguém que me dê o mundo, ou pura...

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Saudade

A minha veia psiquiátrica masoquistaE o meu paternalismo exacerbadoA minha ânsia de um mundo que não se conquistaE a minha incompreensão por não te ter do meu ladoA minha incredulidade perante os imprevistos do tempoA minha resiliência perante os muros dos quais te rodeaste A minha cidade que nos afasta a cada momento A minha insistência distante através dos esturros de amor que me cozinhasteLembra-te das palavras que outrora me dedicaste E do olhar orgulhoso com que me vias entoar-teOs buracos que escavas na aurora de um desastreO...

sábado, 4 de outubro de 2014

Não

Não queiras o que não sabes amarNão te esforces por encontrar pretextos para não o fazeresNão me tomes como um reflexo das tuas dúvidasNão fiques para me deixar só mais uma vezNão queiras o que não sabes se queresNão te empenhes em destruir o que somosNão me julgues pelo que gostavas que te tivesse feitoPara que pudesses deixar-me sempre com a certeza de poderes ficarNão me personalizes nos obstáculos que idealizas e nutresNão me recrimines por ser tudo aquilo que não te permite esquecer-meNão implores ao tempo que nos roube o que já foi vividoNão...

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

- Abandono - As amizades perversas de Júlia Barnabé

"Júlia nunca gostara de surpresas e o acaso sempre fora um fantasma intimidante. Foi no momento em que mais se esforçou para se equilibrar no frágil trapézio dos afectos que este se escangalhou diante dos seus olhos sem que nada o fizesse prever, porque há castelos que exigem uma construção bilateral e a sua contra-cena pura e simplesmente esquecera de decorar as suas falas. Era parte de si entregar-se muito mais do que sabia fazer crer e a perda de um dos projectos mais luzidios que alguma vez idealizara era tão aterradora como foi inesperada....

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Inverno precoce

Os laços avizinham-se frágeis E as palavras perderam a imponência O coração dissipou bombadas ágeis Que justifiquem a nossa existência Impulsos sucedâneos que calo e examinoDestroços encantadores que preservo sem metaSão vultos momentâneos de afectos à margem de qualquer ensinoE esboços ameaçadores de uma jornada que não se completaÉ fado e cinzento, é débil e excrucianteUma transição que sem aviso nos inverteu o intentoUm lado bolorento e febril do teu amante Que afoga a canção sem o sorriso que nos comprometeu a dar alentoVergonha...

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Summer Rain

I'm lacking the excitement of proving myself right I'm lacking to be loved in a decent way I'm lacking the urge to have higher goalsI'm lacking all those words you won 't dare to let out I miss the days when summertime thrilled me I miss the strength of my contesting will I miss the red in my face when you used to fancy me I miss the time when I used to be the futureI long for the applause after I nail the songI long for art that could raise our story across the globeI long for sacrifice when you insist you love meI...

quinta-feira, 24 de julho de 2014

After Gisberta

Importa-me que matesNão me importa que vistas saiasIncomoda-me que roubesNão me incomoda que te operesConstrange-me que mintasNão me constrange a tua verdadeDesola-me que ludibries Apraz-me que te amesRevolta-me que cobicesEncanta-me que dêsDevasta-me que obriguesEdifica-me que partilhesAssombra-me que julguesAdormece-me que aceitesRasga-me que abominesAbraça-me, que aproveitesInteressa-me que te magoesNão me interessa que me magoesArrepia-me que te cortem as asasMas também me dói que voesAperta-me que sejas egoístaAlivia-me que compreendas...

Desaires de horário nobre

O tempo é fogoE eu sou ermoTropeças logoDe modo enfermo Num canto frioSem regra ou modoCurto pavioDe parco engodoDistante desvarioDe livros trocadosNum corpo vazioAo qual somos rogadosEncriptadosSem acessoDesignadosPecado confessoSubmersãoIndulgênciaTransgressãoImploro cedênciaContamino e devoroExcomungo e pertençoDomino e adoroResmungo e adensoUma trama sem fôlegoUma carta sem destinatárioUma cama sem egoQue se parta o amor involuntárioQuem seremosQuem comemosQuem dizemosQuem impersonaremosAssunçãoConcepçãoNutriçãoRejeiçãoCrer no impossívelAbraçar...

Left Untold

Left untoldI embrace the dramaI accept sadnessI invite my karmaInto this madnessI smoke fasterI drink harderI burst the blisterTo walk furtherI contest myselfI regret myselfI love myselfI hate myselfI do my partI listen to my heartI play the foolWith every toolMy feelings mistake meMy racional side hates meI condescend itI still pretend itFor no reasonIn every seasonI contemplateThis mess we createWe're sorryOf our gloryWe're successfullIn our storyWe denyAll the reasons whyWe don't dare to tryTo be betterWe forsakeEvery mistakeLike we could makeUs...

Amor

A porta do quarto já não se fecha de noite e o teu calor já não me acorda de manhã. O tempo fez-se feio para dar as boas vindas a esta nova etapa, de forma a ilustrar a saudade que tenho de ontem. Os nossos horários já não se sincronizam e os argumentos dos filmes perdem a sua riqueza sem que os assista na sombra do teu peito. O olhar dos animais entristeceu por já não nos emoldurarem na mesma fotografia. As minhas emoções estagnaram e o medo tomou conta da minha diligência. Em ti vejo a pressa de fugir porque te assustei com a minha forma desengonçada...

Exageros

ExageroEu exagero no amorEu exagero na boémia Eu exagero no fulgorEu exagero na blasfémia Eu exagero no sofrer Eu exagero no torporEu exagero no temerEu exagero no calorEu exagero no cumprirEu exagero no quebrarEu exagero no bramirEu exagero no sonharEu exagero na saudadeEu exagero na posseEu exagero na intimidadeEu exagero na tosseEu exagero na roupaEu exagero na almaEu exagero na sopaNão exagero na calma!By Da...

A noite

A noite Florescem as horas desmedidas e ensopadas, prostrado e esquecido na folga das mágoas, as demoras bem-vindas na curva das estradas, o fado e o mendigo que mora comigoO resto de coisa absolutamente nenhuma, tremores falaciosos e uma terra infértil, um gargalhar parcimonioso na bruma, acariciares deliciosos num acto que não se consuma Tentáculos de um conluio desapropriado, órfãos de um fundamento que se perpetue,espectáculos de um conceito desafogado, a ousadia de quem se insinueOvações sem jeito ou qualquer conveniência, ruídos...

A desistência

A minha falta de graciosidade não é compatível com jogos de interesseA minha realidade não comporta preços ou tabelasLá na minha cidade ainda há quem pratique o amor e a prece Na trivialidade dos começos das vielasSem qualquer parcimónia que me permita convosco comunicarMasco as terminologias e movimento-me ao som do que ouvisNão há qualquer cerimónia para que anuncie não querer ficarRefém de tecnologias que nos isolam e estupram de formas visQuanto mais desisto de jogar convoscoMais me convenço de que venciBy Da...

Perdida Mente

Perdida menteAuto-estradas de despojosO esplendor que olvidámos Privações da sublimação Contornos que privatizámosA ponte sobre o MondegoE o desnorte conjugal A igreja e a pedofiliaE o nosso perdão banalMal-amados pela saudadeNa genética da nostalgiaQue nos fere a liberdadeE nos assalta a cada diaUma estrada permanenteA que D.Sebastião nos condenouEntra a bica e a telenovelaBolsos que a maré esvaziouA iletracia e o Rock in RioNuma modernidade falaciosaO chumbo do amor sem rótuloO desenrascanço e a litrosaMulheres de saia travadaInfidelidade...

I wish I could miss you

I wish I could miss youI wish I could miss you Like I used to do back thenWhen I believed youCould become a better manThose days are gone nowI'm sure I can stand aloneI decided to make this vowTo inherit your heart of stone'Cause we can be so damn meanThough we know it hurts insideLike nothing we've ever seenThe beauty when two worlds collideYou teached me everything I won't beWhen you dared to belittle my dreamsThe day I forgot you was so hard to meBut I insist on making it easier than it seemsI wish I could miss youLike when I had faith...

Bethnal Green

Bethnal GreenForgive me lord for not knowing what I'm searching forThese doubts will surely burn my soul before I even get thereI've got an overwhelming sensation things might be different than beforeAnd leaving you behind looking so damn kind seems quite unfairYou know I'm loosely based on an adult and I shouldn't trust myselfMy mind and heart constantly battleSo I won't be left on the shelfI might just pack my bags and get the hell out of this placeTo find the best awnsers lie within your faceGive me your grace and hold me tightBeneath the dark...

Carnaval

Mascaremos o desalentoColoremos o desgaste das horasJoguemos o âmago no ventoCelebremos fantasia sem demorasInspiremo-nos em utopias melhoresFinjamos ter força para erguer ideaisRezemos para que hoje tenhamos sonhos maioresRegressemos à origem de cânones vitaisEmpunhemos espadas de lírios e amorGritemos versos e cânticos de apreçoOfereçamos quem somos a uma instância melhorNum carnaval de emoções às quais me confessoTudo parecerá sempre melhor quando fingimos ser quem queremos. O realismo mata a alma de vida que vivemos.By Darko ...

Mind fuck

Poderei eu lamentar a expectativa de brilhantismo?Recriminar a ânsia de que mais do que o suficiente seja feito?Ousaria eu conformar-me com os monstros da inércia e do egoísmo?Seria eu feliz se a minha consciência não pudesse adormecer no mesmo leito?Cada passo lançado mingua a convicção a um ritmo perigosoOlvidamos o ímpeto de projectar futuros mais felizesO passado que se entoa na civilização de caminho sinuosoManchado na incapacidade de germinar tesouros e raízesInteriorizarei eu o fosso perverso que se agiganta entre nós?Condenarei eu...

Inês

Sempre que irrompia por algum lugar adentro o aparato que a fazia anunciar-se era de um ruído tal que até os olhares mais distraídos se impossibilitavam de não pousar sobre si. A incapacidade para silenciar o mundo e estar a sós consigo faziam-na um monstro de necessidades afectivas, procurando companhia no mais aberrante dos desconhecidos, recheando a sua agenda de pequenas pausas para um café com sabe-Deus-quem de forma a que o seu calendário parecesse muito mais primaveril do que era na realidade. Inês acompanhava sempre com uma fofoca largada...